segunda-feira, 14 de abril de 2008

Pororocas


Os prazeres do corpo
adoçam, alegram, cicatrizam.
Abaixo diques, represas!
Sinto o temporal caindo
no deserto. Secreto.
Liberando sumos. Virando Amazonas.
Abaixo a aridez!
Meus fluidos correm livres outra vez!
Quero foz, quero delta, quero muitas pororocas!
Quero muito! Quero mais! Do bom e do pior!
Quero aprender, crescer, evoluir
como a Mocidade na Sapucaí!
abraçando generosamente tudo que me cabe:
o ruim e o melhor! Sem restrições.
E poder finalmente concluir
que tudo depende do ponto de vista,
que são muitos, que são mis.
Abaixo maniqueísmos! Abaixo racismos!
Vivam os quereres! E os amores! E os
desamores!
Mentes míopes, empoeiradas,
hipermétropes e cansadas
pouco podem perceber!
Visão estreita. Mente estreita.
Estreito é o nosso olfacto, o nosso tacto.
Faixas limitadas. Limitadíssimas.
O corpo é o limite! Socorro!
Quero jogar tanto xadrez quanto porrinha.
Admirar Picasso e Newton Bravo.
Me deliciar com adoçante, sal marinho,
fel e açúcar mascavo.
Quero amar o ateu e a freirinha.
O belo e o feiinho.
E amar. E ter prazer. E transcender.
O limite...

por Eliane Stoducto
fotografia de David Steinberg

8 comentários:

Auréola Branca disse...

Felicidade! Eis aqui sua melhor representação!
Gostei muito da poesia.
Fica bem...

Carla disse...

...sem limites as palavras que endeusam o prazer...gostei

lalisca.cs-life disse...

Lindo??
o que são pororocas!!
beijinhos

Pedro M disse...

O termo é brasileiro. Pode ter vários significados. Tanto designa uma espécie de pipoca, como um macaréu (para aqueles que não sabem, macaréu é uma onda de maré que em alguns estuários avança, em forma de muralha, pelo rio acima vencendo a força da corrente deste. Pode também designar borbulhas da pele (um popularismo por analogia com as pipocas).

Quero acreditar que a autora do poema, Eliane Stoducto, tenha estabelecido uma analogia entre as ondas de prazer do orgasmo, e as ondas de maré avançando pelo rio acima :-)

Um beijo

Bichinho disse...

Lindo!!
Beijo fantasma.

lalisca.cs-life disse...

Percebido!!
beijo

Ana Luar disse...

Belas são as ondas que por aqui se erguem... hummm e que deliciosas imagens trouxeste á minha mente com este poema. ´:)

Jade disse...

escrevo-te...
pelo corpo sinto um arrepio
que arrasta o meu próprio
naufrágio em tua costa
corro então com o corpo sedento
bebendo das veias as poucas
forças que me restam
avanças pelo mar adentro,
ferido...descansarás em minhas dunas
o sol retira-se e a lua aproxima-se
deixando viva a tatuagem da tua silhueta sobre mim
e assim...
;)