segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Sou tua


O meu corpo
Tem toque de veludo
Na entrega carnal
Dos afectos
E desejos incontidos
Que não escondo
Atrás de máscaras
De menina decente.
Sou mulher,
Inteira, completa,
E quero-te
Ávido de mim,
Sedento dos meus seios
E ansioso
Pelo roçar das minhas coxas
Que se abrem para te receber.

Completa-me e mistura-te
Com os fluidos lascivos
Que se unificam
Em matéria
Que anseio receber
Dentro de mim...

Vem...
Sou tua!

por Vera Sousa Silva
fotografia de Didier Carré

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Mãos


um mole cedia
macia era aquela pele que agarrava
os pêlos

Madalena no escuro
a melhor
a mais simples

no silêncio na pele agarrava
a minha
a dela
toda

calças
dedos
aplicados
enrolei

a mama toda aberta
os dedos depois
como nuvem

a palma e os dedos
por cima
sem forma

os dedos
um no outro tocando-se
de cima
de mim
redonda

no escuro
na vulva
cedendo

peles escorregando
líquido
largo

sob o dedo encontro
a carne

sentem pelos nós
as unhas
nascentes

minúsculas
chupando o dedo
as nádegas minúsculas

o dedo descaindo
apontado
exterior

por Álvaro Lapa
fotografia de autor desconhecido

Nas ervas


Escalar-te lábio a lábio,
percorrer-te: eis a cintura
o lume breve entre as nádegas
e o ventre, o peito, o dorso
descer aos flancos, enterrar

os olhos na pedra fresca
dos teus olhos,
entregar-me poro a poro
ao furor da tua boca,
esquecer a mão errante
na festa ou na fresta

aberta à doce penetração
das águas duras,
respirar como quem tropeça
no escuro, gritar
às portas da alegria,
da solidão.

porque é terrivel
subir assim às hastes da loucura,
do fogo descer à neve.

abandonar-me agora
nas ervas ao orvalho -
a glande leve.

por Eugénio de Andrade
fotografia de Arealdream

in Música de Cama


Entre as nádegas
o pávido sulco
tem aromas de áfricas
e de uvas de outubro

Dirias que fora
um silvo de morte
a penetrar toda
a nocturna flora

até hoje intacta
que ainda aí tinhas
Respira Não fales
Murmura Não grites

Que travo de amoras
Que túnel escuro
Que paz no que sofres
por mais uns minutos

O pescoço vergas
submissa e frágil
tal qual o de uma égua
que vai beber água

mas encontra a lua
E junto da cama
a rosa viúva
com lágrimas brancas

já pede a meus dedos
sacudido apoio
para a viuvez
em que a deixo hoje

Muito mais a norte
os queixumes calas
E nem gemes Gozas
enquanto te invade

o suco da vara
vertido no sulco
Vê como foi fácil
Respira mais fundo

por David Mourão-Ferreira
fotografia de autor desconhecido

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Quero


Perguntas-me...
Se te desejo
Não sei o que quero...
Seduzir-te...
Sentir-te...
Saborear-te
Espalhar o meu cheiro em ti...

Ah, sim...
Desejo-te...
Quero-te...
Quero mergulhar na tua pele...
Deixar-te louco com o toque dos meus lábios...

Ah, sim...
Quero-te...
Seduzir-te... sentir-te...

provocação de Marta
fotografia de Andrzej Tyszko

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

L’huile


Tu es l’huile, la première et l’extrême onction
Ma petite mort, tu t’insinues de partout, tu infiltres
Ma peau, la dores, la bronzes, hâlée je repose allongée sur le ventre.
Les veines des tempes enflées par l’orgasme
Et le sexe éclaté, tu disparais, tu t’égouttes,
Tu me goûtes, tu me lèches,
Me suces, me manges et me digères.
Derrière un thé à la menthe : je te laisse
A nouveau investir mes secrets.
Au bord de l’eau tu me masses,
Tu pénètres mes fantasmes,
Flottes sur l’eau.
Tu es comme une huile, douceur, fraîcheur,
Tu coules sur tout mon corps,
Tu pimentes mes jours, mes nuits,
Met chaleureux : je te laisse me croquer dans l’entrée.
Dans le désert, me laissant seule et désireuse avec ma boîte
A fantasmes, mon crâne défait par tant de caresses.
Les cheveux décoiffés, l’emploi du temps désorganisé,
L’espace d’une minute, tu as fait partir
Le temps et le sablier
En fumée

par Victoria Valtes
photographie de Norbert Guthier

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Nocturno vermelho


esta noite beberei
o vinho de tua taça
e deixar-me-ei levar
pelo que insinuas

mergulhar-te-ei
em mentiras tuas
mais absurdas
cruas, de todo

entregar-me-ei
ao idílio, filho
etílico do vício
teu desde o início

quererei perder-me
em teus meandros
e lençóis bordados
instinto dos portais

tintos tais, profanos,
dos vinhos mais carnais
derramados tais
sobre os panos

teu espírito em reflexo
à taça jazente semi-plena
entre nós, circunflexo
laço, boca, cena

e a vaga-luz difusa
as mentes deixadas
ao acaso dos desejos
ensejos do porvir

e a luz desnecessária
entrega-se à noite
e o absinto de Neptuno
afoga-nos em humores

quem eu? quem tu?
na comunhão de sentidos
na integração de fluidos
quem somos?

por CAlex Fagundes
fotografia de Pavel Kiselev

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Modo de amar ― VI e VII


Modo de amar – VI

Inclina os ombros
e deixa
que as minhas mãos avancem
na branda madeira

Na densa madeixa do teu ventre

Deixa
que te entreabra as pernas
docemente

Modo de amar – VII

Secreto o nó na curva
do meu espasmo

E o cume mais claro
dos joelhos
que desdobrados jorram dos espelhos

ou dos teus ombros os meus:
flancos
na luz de Maio

Por Maria Teresa Horta
fotografia de Stanislav Blagenkov