domingo, 30 de janeiro de 2011

Lettera amorosa


Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.

por Eugénio de Andrade
fotografia de Vlad Gansovsky

4 comentários:

Anónimo disse...

Saboreio em pensamento :-)


Fique bem!!!

Pedro M disse...

Minha querida anónima,

adormeço recordando o seu sabor derretendo em minha boca :-)

Um beijo

Pedro

Stargazer disse...

Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.

Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.

Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.

Eugénio de Andrade

Beijo deslumbrado,

Pedro M disse...

Minha querida Stargazer

Adorei o poema que escolheste no dia em que o li, trouxeste à minha memória uma paixão que vivi.
Demorei três meses a responder ao teu comentário, hoje pergunto-me se foi por andar muito ocupado, se foi pelas memórias que revivi...

Um beijo deslumbrado

Pedro