terça-feira, 22 de junho de 2010

Caça e Caçador


Provei-te
e reencontrei o prazer no teu corpo
Perdi-me nos teus lábios,
encontrei-me nas tuas mãos
Nossos corpos bailam sobre a cama
É fogo que queima o desejo
e que arde em cada toque
Ah... essas coxas em minhas coxas num encaixe perfeito
Essa boca que me procura me levando a loucura.
Teu gosto, teu recheio
Transforma tua menina
Nessa amante devassa, amante completa.
Agora vem... excita meus pensamentos
Acalma meus tormentos, meus sonhos delirantes
Venha
Sou tua caça...
Sem resistência me entrego a ti, meu caçador!

por Rozeli Mesquita
fotografia de autor desconhecido

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Se duvidas que teu corpo...


Se duvidas que teu corpo
Possa estremecer comigo –
E sentir
O mesmo amplexo carnal,
– desnuda-o inteiramente,
Deixa-o cair nos meus braços,
E não me fales,
Não digas seja o que for,
Porque o silêncio das almas
Dá mais liberdade
às coisas do amor.

Se o que vês no meu olhar
Ainda é pouco
Para te dar a certeza
Deste desejo sentido,
Pede-me a vida,
Leva-me tudo que eu tenha –
Se tanto for necessário
Para ser compreendido.

por António Botto
fotografia de Franck Leboulenger

domingo, 6 de junho de 2010

Poemas para a amiga (Fragmento 8)


Contemplo agora
o leito que vazio
se contempla.
Contemplo agora
o leito que vazio
em mim se estende
e se me aproximo
existe qualquer coisa
trescalando aroma em mim.

Onde o teu corpo, amante-amiga,
onde o carinho
que compungido em recebia
e aquela forma que tranquila
ainda ontem descobrias?

Agora eu te diria
o quanto te agradeço o corpo teu
se o me dás ou se o me tomas,
e o recolhendo em mim,
em mim me vais colhendo,
como eu que tomo em ti
o que de ti me vais doando.

Eu muito te agradeço este teu corpo
quando nos leitos o estendias e o me davas,
às vezes, temerosa,
e, ofegante, às vezes,
e te agradeço ainda aquele instante (o percebeste)
em que extasiado ao contemplá-lo
em mim me conturbei
― (o percebeste) me aguardaste
e nos olhos te guardei.

Eu muito te agradeço, amante-amiga,
este teu corpo que com fúria eu possuía,
corpo que eu mais amava
quanto mais o via,
pequeno e manso enigma
que eu decifrei como podia.

Agora eu te diria
o que não soubeste
e nunca o saberias:
o que naquele instante eu te ofertava
nunca a mim eu já doara
e nunca o doaria.

Nele eu fui pousar
quando cansado e dúbio,
dele eu fui tomar
quando ofegante e rubro,
dele e nele eu revivia
e foi por ele que eu senti
a solidão, e o amor
que em mim havia.

Teu corpo quando amava
me excedia,
e me excedendo
com o amor foi me envolvendo,
e nesse amor absorvente
de tal forma absorvendo,
que agora que o não tenho
não sei como permaneço nesta ausência
em que tuas formas se envolveram,
tanto o amor
e a forma do teu corpo
no meu corpo se inscreveram.

por Affonso Romano de Sant’Anna
fotografia de Aleksandr Zhernosek