sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Só hoje



Para todas as minhas leitoras, com o meu desejo de que tenham um Feliz Natal!!

Um beijo
Pedro M.


Só hoje,
tenho apetites
de ti,
ganas de te comer,
morder e trincar,
devagarinho,
degustando
cada pedaço teu,
sorvendo teu orvalho,
licor dos deuses,
destilado em paladar meu.

Só hoje,
ouço teus sussurros
embalados na onda
desta maré
que se enche e esvazia
ao sabor de cada garfada,
ao som da vontade
ritmada
pela minha fome,
pelo meu desejo.

Só hoje,
deixa-me saciar-me (-te).

por Mar Maria
fotografia de autor desconhecido

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

As mil cores do amor


O ar é inalado com mais frequência.
Conjunto de sutiã e cueca no tom de carmesim e preto.
Como resistir?
O amor é complexo e tem medo de se apaixonar.
Mas confia nela e quando a vê no seu quarto toda a dúvida se vai.
Ele dá um passo em frente e parece que tudo sem ela não tinha cor.
Então, ela entende a absorção de todos os fracassos e com o dedo esticado, pálido, e com as unhas pintadas de vermelho chama-o, encolhe e estica o dedo.
Mas fica imobilizado, ela tresanda a sensualidade.
Não a pode deixar escapar, já a fez suspirar uma vez, apesar de também já ter falhado.
Um passo mais à frente e todo o seu sangue ferve...
Não pode ter medo o resto da vida..
O tempo todo tem que acreditar que tudo funcionará bem.
Neles tudo continuava igual, não há razões para não acontecer.
Um passo mais perto e ela mostra o umbigo da barriga dela de boneca ao deitar-se.
Um passo mais perto e ela já toca com as pontas dos dedos dos pés nas pernas do mesmo.
Ela transforma-o em submisso sempre que o quer encontrar ele está sem atrasos para a servir.
O calor perto dela é intenso e insuportável.
O aroma das velas aromáticas acorda-o e beija os pés dela revestidos apenas por umas meias de rede.
É difícil dizer não.
Até chega a sonhar com toda a tonalidade do corpo feminino.
Engraçado, nada muda nesta cama a mão dela aperta firme os cabelos da cabeça do rapaz para o dirigir.
Longe do romance mas perto da satisfação.
Quer-lhe dar tudo o que não conseguiu na última vez.
Eleva o rosto dele e olha-o nos olhos. Os olhos marrom estão incendiados.
— Vamos para o parque de diversões. — Sorri.
Esfrega os lábios por de baixo de um tecido fino quase transparente no rosto dele. Sente a textura das meias aos quadrados.
É óbvio que o desejo é mútuo.
Se alguém estivesse a ver também quereria participar.
A única verdade é que o íman os aproxima a cada momento.
Também entendeu que o conjunto é novo. Espera ser o primeiro a cheirá-lo.
Tão difícil recolher as mãos e não lhe tocar. Sofrer em desejo e não satisfazê-lo logo.
Ela eleva de novo o rosto dele e mostra-lhe um chicote novo. O cheiro do couro indicava-o.
Sempre o aceitou porque sabia que nunca o magoaria.
— Roupa fora. — Os lábios encarnados movem-se e logo ele obedece.
Mais um passo próximo e é beijado nos joelhos com subidas. O que o inquietava eram as fivelas do chicote balançando sobre a pele dele.
Provocadora, ela coloca 4 dos 5 dedos dele na boca.
Envolve-os com a língua áspera e húmida. Suga-os em seguida e sem forma de se controlar o seu corpo torna-se trémulo.
Mesmo a conhecer os desejos dela, ainda fica nervoso.
Entra em estado de brasa ao sentir a boca dela nos seus dedos.
O momento soft e doce torna-se em chamas quando ela agarra na mola e a aperta.
Ele trinca o lábio inferior e fecha os olhos.
Talvez seja errado, talvez as regras dela não permitam, mas ele desejava que lhe tocasse.
E se as pessoas vissem também quereriam sentir a firmeza desta mão feminina.
A outra mão agarra a pele sensível escondida.
Ambas puxam-no pra baixo enquanto os dedos dele ainda são sugados.
Mas deixa-o imóvel com os dedos cheios de saliva e larga o pénis e os testículos com firmeza.
Eleva uma perna para ele segurar e despe a meia, eleva a outra e despe. Continua a segurá-la.
Consegue avistar os actos da mulher, com um dedo a passear em si e quando se sente húmida e com o sangue a ferver cria uma melodia.
O homem começa a beijar o pé dela de novo, para não se concentrar no atrevimento dela, mas era impossível. A cada momento crescia.
Conforme subia a beijar a perna, a tesão existente roçava na outra perna.
E assim que chega à cintura lambuza as virilhas, enquanto o cheiro do prazer dela o inundava.
Já quase sem forças e trémula, puxa-o para si e ele lambe todo o seu prazer propositando mais.
— Enche-me com força.
De joelhos, ele debruça-se sobre o corpo feminino e completa o seu ser.
Retira as restantes forças e no fim beija o umbigo e sobe mas ela pára-o. Tem mais ideias para ele.
Sabe o quanto se esforçou e dá valor ao seu desempenho.
Quando o fôlego é recompensado, ela manda o homem deitar-se.
Passa as fivelas de couro no corpo dele.
Mãos para cima e não as pode mexer, pés presos na cama e os olhos vendados.
Champagne gelado cai sobre o tronco dele e em seguida pressiona a pele dele com os lábios causando fricção.
E termina por massajá-lo e sugá-lo até não haver mais o que chupar.


por Lily Silva
fotografia de autor desconhecido

domingo, 22 de outubro de 2017

Monólogo a dois


Sábia talvez inconsciente,
Doseando com volúpia, uma ancestral sofreguidão,
Ali onde o desejo mais me dói, mais exigente,
Me acaricia a tua mão.
De olhos fechados me abandono, ouvindo
Meu coração pulsar, meu sangue discorrer,
E sob a tua mão, na asa do sonho, eis-me subindo
Àquele auge em que todo, em alma e corpo, vou morrer…


por José Régio
fotografia de autor desconhecido

Poema


Crispou-se a minha mão sobre o teu sexo,
Fecharam-se-me os olhos sem querer…
De que abismos voava até ao fundo?
E a minha mão sondava
E triturava
Aquele mundo
Tão pequenino e tão complexo:
O teu mistério de mulher.


por José Régio
fotografia de autor desconhecido

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Las rosas palpitaban encima de tus senos



Las rosas palpitaban encima de tus senos
duros. Como una flora de las blancas batistas
que tus brazos rosaban cálidamente llenos,
los encajes tentaban con carnes entrevistas

¡Qué cándida lujuria en tus bucles con lazos
rojos! ¡Oh, tus mejillas, mates como jazmines,
bajo la llama negra de los hondos ojazos
sobre la pasión cálida de las rosas carmines!

Ibas hacia la vida con todo tu tesoro
intacto... Me mandaste tus pájaros de amores...
¡y te besé, temblando, tu alegría de oro
con un miedo doliente de poner tristes tus flores!


por Juan Ramón Jiménez
fotografia de autor desconhecido

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Surpreende-me



Surpreende-me...
Querer desejo incontido
Lambe-me os seios
desmancha-me a loucura
usa-me as coxas
devasta-me o umbigo
mostra-me tua bravura
abre-me as pernas
põe-nas nos teus ombros
e lentamente faz o que te digo
os meus seios pendentes
nas tuas mãos fechadas
Encostada de costas quentes suadas
ao teu peito inchado
em leque as pernas dolentes
abertas
o ventre inclinado
ambos de pé colados
despertas
formando lentos gestos de ternura
as sombras brandas
tombadas no soalho leito
Corpos excitados
Em morna loucura
Estranho feito
Que em tempo perdura

por Ana Bárbara de Santo António
fotografia de Garm

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Oh minha senhora ó minha senhora



Oh minha senhora ó minha senhora oh não se incomode senhora
minha não faça isso eu lhe peço eu lhe suplico por Deus nosso
redentor minha senhora não dê importância a um simples mortal
vagabundo como eu que nem mereço a glória de quanto mais
de... não não não minha senhora não me desabotoe a braguilha
não precisa também de despir o que é isso é verdadeiramente fora
de normas e eu não estou absolutamente preparado para semelhante
emoção ou comoção sei lá minha senhora nem sei mais o
que digo eu disse alguma coisa? sinto-me sem palavras sem fôlegos
sem saliva para molhar a língua e ensaiar um discurso coerente
na linha do desejo sinto-me desamparado do Divino Espírito
Santo minha senhora eu eu eu ó minha senh... esses seios são
seus ou é uma aparição e esses pêlos essas nád... tanta nudez me
deixa naufragado me mata me pulveriza louvado bendito seja
Deus é o fim do mundo desabando no meu fim eu eu...

por Carlos Drummond de Andrade
fotografia de autor Ruslan Lobanov

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Como joya de carne



Como joya de carne, como rosa de vida,
desnuda te sentabas encima de mis piernas.
Eras como una rosa abierta en un ciprés,
como una mariposa en una calavera.

Dios creaba de nuevo el paraíso
si tu risa de oro y plata bordaba mi tristeza.
Yo venía del mundo de los muertos, tan sólo
por tenerte en mis manos temblorosas y ciegas.

Después la brisa que eras tú se fue cantando...
Se apagó el sol. Ya nunca volvió el alba a la tierra.
Y en la sombra constante te perseguí, llorando
como un niño, de cima en cima, en las estrellas.


por Juan Ramón Jiménez
fotografia de autor desconhecido

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

En la ardentía del placer me has desnudado



En la ardentía del placer me has desnudado
todo: tus senos tibios, dulces como la muerte,
tus brazos imprevistos con sus hierbas de luto,
la misteriosa pesadilla de tu vientre…

El placer ha sentido todo, bajo sus manos,
bajo sus labios, bajo sus fantasías, entre
la locura sin nombre de todos los ardores
un fuego de colores en un fuego de fiebres.

Luego, un pudor que torna de tu inocencia antigua
te hace, si te sonrío, rojecer levemente
y te arreglas tus faldas y te guardas tus pechos
confusa, con un aire dulce y adolescente

por Juan Ramón Jiménez
fotografia de David Hamilton

sábado, 19 de agosto de 2017

Cuando te levantaba las faldas perfumadas



Cuando te levantaba las faldas perfumadas
roja, como una rosa, tu cara era una risa;
tus ojos negros eran más negros y más blandos,
todo el aroma de tu cuerpo se encendía.

Y sobre la locura del instante del estío
te cegaba los ojos tu cabellera tibia.
Un mohín de fastidio replegaba tu labio
y mostrabas tus dientes de luminosa china…

Nunca el reproche tuvo tibieza ni amargura,
te dabas toda porque sí, porque querías,
y las rosas quemadas de tu jardín con sol
ornaban con fragancia de oro tu fatiga.

por Juan Ramón Jiménez
fotografia de autor desconhecido

domingo, 13 de agosto de 2017

¡Hermana!



¡Hermana! Deshojábamos nuestros cuerpos ardientes
en una profusión sin fin y sin sentido…
era otoño y el sol —¿te acuerdas?— endulzaba
tristemente la estancia de un fulgor blanquecino…

Luego —los ojos grandes como carbones rojos—
te arreglabas la toca, el velo… y sin ruido
te ibas, como una sombra, a la capilla aquella
perdida entre opulentos rosales amarillos…

Venían días tristes en que te recogías…
mi amor se hacía más inmenso y más sombrío
y cuando tú surgías, más pálida que el agua,
encontrabas mi pecho como un pájaro el nido…

Tú creías que Dios te miraba… En las tardes
de huracán y tormenta temblorosa de frío
ibas, los ojos bajos, pegada a las paredes,
con el corazón asustado como un niño.

por Juan Ramón Jiménez
fotografia de Ruslan Lobanov

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Cunilingus



Una rosa abierta, desgarrada
de pliegues rosaroja
esperando tu boca.

Tu experimentada boca
tu boca loca, de lengua loca.

Vuelvo a pedirlo, desde que
dejasteis temblando mi alma
herida de suspiros y vacíos.

Mis caderas suben y bajan
mi garaganta grita
se retuerce mi cuerpo.

Tus dedos aprietan la piel que nace
debajo,
mientras juegas al efecto negativo
con la lengua.

LLegas y te enfrentas sin pedir
permiso, mientras las manos
recorren la madera lustrosa
de hombre.

Cerrar los ojos convencida
que estas con tus alas desplegadas
ángel maldito, adictivo y entregado.

Cae la tarde, y tambien la espuma
sobre mi vientre
tus olas se han venido rabiosas
descaradas y violentas.

La tibieza de las células derramadas
por doquier sobre mi espalda
transformada en agua alimenticia,

No estás...
te has ido con la escarcha de la mañana
a mi me han brotado hijos en los pezones
recordando tu boca loquísima.

Nada impide que me apetezca
lo mismo mañana, hoy mismo
aunque no navegues mis aguas!

por Nina Salinas (César)
fotografia de autor desconhecido

terça-feira, 18 de julho de 2017

Me mirabas



Me mirabas y reías en la sombra,
con esa expresión pura e inocente.
Aquella que cautiva y provoca
el pensamiento sórdido e indecente.

Bailaste tan impúdica y femenina,
con un atuendo parvo y estrecho,
ostentando tus sensuales ligas
sobre la seda negra de nuestro lecho.

Tu lengua jugueteaba con mi vista,
estimulando el deseo de tus labios.
Alzaste tu vestido, cual musa atrevida
con movimientos lentos y sabios.

De rodillas, me mirabas,
tentando mi género con tus manos.
Sonreías traviesa y succionabas
presa de un apetito desquiciado.

Ansiosa relamías y, me mirabas
como queriendo cada vez más.
Tus ojos delineados me acechaban
con una perversión estimulante.

Cual ramera escupías, mamabas...
¡Y me mirabas, haciéndolo más intenso!
Exhibías tu lengua y luego te apartabas
dejando un hilo pegajoso y tenso.

Decías acaba sobre mí, lo quiero...
y abriendo tu Entonces sentía un fuego interno,
que al apreciar posabas la cara.

Y mostrando tu lengua lechosa.
Fuí adicto a la felación,
de tu garganta y labios de diosa.

por Arcanvm (César)
fotografia de autor desconhecido 




quinta-feira, 13 de julho de 2017

Meu chocolate



Ao leite ou derretido
Com passas ou crocante
Puro ou pervertido
Com recheio
É excitante
Eu saboreio
Te mordo
E meu corpo todo
Lambuzada
Chocolate
Fina arte
Transformada
Misturada
Ao sabor supremo
Meu chocolate
Meu veneno
Você é arte
Só você extermina
Minha melancolia
Você, serotonina
Que me vicia

por Liz Christine
fotografia de autor desconhecido

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Fecundação



Teus olhos me olham
longamente,
imperiosamente
de dentro deles teu amor me espia.

Teus olhos me olham numa tortura
de alma que quer ser corpo,
de criação que anseia ser criatura

Tua mão contém a minha
de momento a momento
é uma ave aflita
meu pensamento
na tua mão.

Nada me dizes,
porém entra-me a carne a persuasão
de que teus dedos criam raízes
na minha mão.

Teu olhar abre os braços,
de longe,
à forma inquieta de meu ser,
abre os braços e enlaça-me toda a alma.

Tem teu mórbido olhar
penetrações supremas
e sinto, por senti-lo, tal prazer,
há nos meus poros tal palpitação,
que me vem a ilusão
de que se vai abrir
todo meu corpo
em poemas.

por Gilka Machado
fotografia de autor desconhecido

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Paixão porta adentro



Paixão porta afora
não se comporta:
pernas sobre pernas,
desliza a pele lisa,
vestido sobe
e tronco desce
nu
até encostar
calor com calor
seco com úmida
e equilibar
e desequilibrar.

Âmago à porta,
como se esperasse
— gosta de estar à porta;
sentir que o rosto umedece
com um pulsar
antes de provar do chão
liso,
depois, enfim, desce,
trespassa o batente
e sente até os pés molhar,
seco com úmida,
finalmente, unidos.

Paixão porta adentro.

por Saulo Pessato
fotografia de Simon Bolz

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Carla


Nua, quando beija
a minha boca Carla,
tarde, alarma a calma,
quero abocar-la.

Carla, a minha boca
quieta, pois é tua,
quando fala, cala-me!
Carla-me...

por Saulo Pessato
fotografia de Simon Bolz

domingo, 25 de junho de 2017

A bunda, que engraçada


A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.
Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora — murmura a bunda — esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.

A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.

A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.

Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar
Esferas harmoniosas sobre o caos.

A bunda é a bunda
redunda.

por Carlos Drummnod de Andrade
fotografia de autor desconhecido

sexta-feira, 23 de junho de 2017

A well-tempered keyboard


Now that I am finally getting laid again
my piano playing is improving. What else
would I do in those moments of waiting
bathed, perfumed, satinned, variously
analgised and anaesthetised?

It seems impossible to me now, that
anyone could play Bach without thinking
of sex. More than the insistence of that
pulsing left hand chord, it’s the way we move
from key to key as if harmony were a body.

My fingers are getting nimbler; I can dream
of grace in those quick passages, almost
believe that nerves could heal. I’ve noticed too
that these days sex ends like a chorale, a single
note slipping into the home chord: a-a-men.

by Helen Clare in Mildly Erotic Verse
photography of unknown author

terça-feira, 20 de junho de 2017

Amor — pois que é palavra essencial


Amor — pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.

Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?

O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.

Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?

Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.

Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.

E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da própria vida,
como ativa abstração que se faz carne,
a idéia de gozar está gozando.

E num sofrer de gozo entre palavras,
menos que isto, sons, arquejos, ais,
um só espasmo em nós atinge o climax:
é quando o amor morre de amor, divino.

Quantas vezes morremos um no outro,
no úmido subterrâneo da vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.

Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre.

por Carlos Drummnod de Andrade
fotografia de Leigh Perkins (Mighty Aphrodite)

Longa ausência

Peço-vos, minhas leitoras, desculpa por esta minha algo longa ausência.
As últimas semanas, de facto os últimos dois meses, têm sido um período de intensa actividade profissional, o que não me tem permitido dedicar o devido tempo àquilo que realmente me dá mais prazer: a vossa companhia... literária.
Espero retomar, durante as próximas semanas, um contacto mais frequente convosco.

Um beijo
Pedro M

terça-feira, 14 de março de 2017

Retratos de Mulheres (extracto)



Primeiro interessou-me o seu ar espiritual,
as suas idéias, a sua percepção do mundo.
Depois notei o perfume, doce e delicado,
as marcas de baton nos copos descartáveis,
os seios que eram como pêras maduras.
E foi num debate — ela sentada, eu de pé —
sobre a existência ou não existência de Deus
— ela citando o Evangelho, eu Mersault —
que o telefone tocou e para atendê-lo
ela revelou a espantosa delícia
que eram as suas coxas grossas e rijas.
Estremeci e concluí que deus ou a alma
são coisas distantes e sem propósito.
Quero fodê-la, penso e afirmo
com toda a vulgaridade que permite a poesia.

por Daniel Francoy in Em Cidade Estranha/Retratos de Mulheres
fotografia de autor desconhecido

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

A língua lambe


A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.
E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.

por Carlos Drummnod de Andrade
fotografia de autor desconhecido

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Uma menina


água, tua música de pele
e cheiro fluindo de florações
impalpáveis, chuva acesa
no centro do abismo, onde flutuam
manhãs

terra, teus passos tua voz teus
ruídos de amor e um gozo
além das cordilheiras do sonho
tecendo galáxias, vertiginosa
raiz

ar, teu gesto marinho, olhos
feitos do arremesso do mar
e a centelha invisível a mover
os labirintos do vento, cósmica
serpente

fogo, teu corpo de medusas
e feridas vivas, vulcões,
planeta todo luz, talvez paixão,
pássaro tatuado nas estrelas,
coração

por Afonso Henriques Neto
fotografia de David Hamilton

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Parched


With each warming word,
each lusty sighing breath
you draw my milky fluid forth
tissue swelling swollen sweet
lotus bud bursts to blooming
wetness wild drenching
inner thighs sex slipping
against one another
engorged with red love
squirming delirious discomfort
the best kind of torture…
so take me home with you
tease me hard till I come
heaving heavy hot breaths
watching you privately perform
show me your thick pulsing heat
fill me with it hard and deep
let my rosy gates welcome
you in with warm wet embrace
over and over, over and over
dehydrated by climactic end
thirsty for hydration, I beg
drip drops of quenching water
in my gaping mouth if I behave
then show me exactly what
to do to you once more
to please your soul with mine
to make me parched again

by Emily Clapper
photography of Stanislav Blagenkov