quinta-feira, 7 de março de 2019

Carta saudade do Pénis Astro



Minha amada Rosa antes que a brisa da manhã se rasgue e se levante a noite avanço fechado numa fonte secretamente onde bato no jardim, deste amado (de pesados frutos).
Assento traqueia-me numa orgia pensar no pensamento;

« No meio dessas tuas trancas levanta-se o meu, pescoço, pastando entre essa boca negra...
As frutas redondas, por força dessa tua doçura interna... nevam letras neste meu rosto, lembrando, pensando, correndo ao som delas...
... fecha... fecha nelas tudo aquilo o que se fecha...
Palma negra onde pousam as águas banha-se nela o leite... e os teus lábios maciços perfumados... Lembrada, lembrando esse teu lenço vivo, aberta!...
... é a loucura correndo com o teu nome... é loucura balouçando entre essas tuas linhas lavradas...
Rósea genital, quadris negros e molhados...
Ah!... (lembrar)
O alto aberto nos teus corredores vaginais...
A ponta das falangetas treme... é golfada pungente num rasgão vocal;
Ferroada branca... leite desordenado!
Oxigénio sélvatico!... »

De mãos entre a cabeça e a cabeça entre fôlego e a escrita...
Dolorosa esta distância incandescente, parte a minha ressaca silênciosa sobre níveis tão primários , enxuto e raspado desejo-te agora na saudade...

Teu,
Pénis Astro

por Luísa Demétrio Raposo
fotografia de autor desconhecido