sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Rosa


rosa botou
o vestido
vermelho
olhou
no espelho
e floresceu

por Adélia Danielli
fotografia de Simon Bolz
modelo: Vladi

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Amar dentro do peito...


Amar dentro do peito uma donzela;
Jurar-lhe pelos céus a fé mais pura;
Falar-lhe, conseguindo alta ventura,
Depois da meia-noite na janela:

Fazê-la vir abaixo, e com cautela
Sentir abrir a porta, que murmura;
Entrar pé ante pé, e com ternura
Apertá-la nos braços casta e bela:

Beijar-lhe os vergonhosos, lindos olhos,
E a boca, com prazer o mais jucundo,
Apalpar-lhe de leve os dois pimpolhos:

Vê-la rendida enfim a Amor fecundo;
Ditoso levantar-lhe os brancos folhos;
É este o maior gosto que há no mundo.

por Manuel Maria Barbosa du Bocage
fotografia de autor desconhecido
modelo: Sanja Matice

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Cuando, después de amarnos



Cuando, después de amarnos, te coges el cabello
desordenado, ¡cómo son de hermosos tus brazos!
cual en un libro abierto, surge la letra negra
de tus axilas, fina, dulce sobre lo blanco.

Y en el gesto violento, se te abren los pechos,
y los pezones, tantas veces acariciados,
parecen, desde lejos, más oscuros, más grandes...
el sexo se te esconde, más pequeño y más blando...

¡Oh, qué desdoblamiento de cosas!
Luego, el traje lo torna todo al paisaje cotidiano,
como una madriguera en donde se ocultaran,
lo mismo que culebras, pechos, muslos y brazos.


por Juan Ramón Jiménez
fotografia de Simon Bolz
modelo: Ariel

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Os amantes



A hora era sempre a mesma, os dias, bem os dias eram todos, excepto quando um sms nervoso desmarcava. E nunca perguntávamos porquê... simplesmente aceitávamos prolongar a espera até ao dia seguinte.
Estacionávamos perto, mas nunca demasiado perto. Dava-nos um prazer enorme caminhar aquelas últimas centenas de metros de mãos dadas. Sentia a tua mão na minha e o teu cheiro que se desprendia ao vento. Olhava para ti e despia-te com os olhos... sabias que eu o fazia e provocavas-me caminhando aos saltinhos e fazendo a saia revelar mais do que era suposto.
Há quanto tempo tínhamos aquele apartamento? Perdi facilmente a conta aos meses. Raramente ali dormíamos... pelo menos os dois juntos. Lembro-me de ali ficar uma noite em que regressei mais cedo ao Porto para estar contigo. Lembro-me de ali teres ficado uma noite e de pela manhã eu te ter ido buscar e levar à estação para apanhares o comboio para Lisboa, onde era suposto estares desde a noite anterior.
Sim, lembro-me do teu cheiro... lembro-me de ter começado a usar o mesmo sabonete para que cheirássemos ao mesmo.


fotografia de autor desconhecido