terça-feira, 29 de abril de 2008

Proposta


Eu te proponho:

encontros à meia luz
em quartos de desejos
com janelas de nudez,
e portas escancaradas
para receber com pompas
o amor fugido dos silêncios.

Eu te proponho:

entre mordidas e beijos
que ouças minha voz liberta
deixando no espaço o eco
dos gritos da minha carne
ansiosa por sentir
o arrepio da tua pele
quando meus dedos percorrem
o caminho das tuas coxas.

Eu te proponho:

fúria, tempestade, tremores,
no mar dos lençóis de seda
para eu ficar à deriva
nas águas do teu prazer,
procurando no céu dos teus olhos
cadentes estrelas kamassutreanas
desenhando em minha mente
as mais loucas posições.

Eu te proponho:

não deixar o fogo amainar,
avivá-lo com as muitas achas
da minha lascívia latente,
retirando as cinzas com o sopro
vindo do fundo das entranhas,
expondo todas as brasas
que são momentos de loucura
ao embriagar-me em cio
com teu doce licor carnal...

por Maria Hilda de Jesus Alão,
fotografia de David LeBeck

poema proposto por leitora anónima

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Diz...


Sim... pode falar...
fale de paixão
fale de tesão
fale do teu jeito
que não é maldito
fale sussurrando tudo
ao meu ouvido
como um zumbido
de prazer...

Diga... diga que está apaixonado
diga que és o meu amado
desde outra vida
e que nada será violado
além da paixão
e que sempre haverá o cuidado
de nos pertencer...
... protecção...

Diz... diz que desejas o meu último sorriso
diz tudo aquilo que eu preciso
diga o que quer
e o que não quer
teu coração...
é tudo permitido
êxtase de emoção.

por Isabel Machado
fotografia de Oleg Kosirev

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Invades-me...


Invades-me, cristal húmido,
na nocturna teia do desejo
suco o teu mentolado esperma,
da minha boca saem pérolas irrequietas,
como nervosas medusas,
enganadas no seu destino

por Jade
fotografia de Adrian

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Teu fruto


Chupo
teu fruto
na moita
que o vento
açoita
com boca
afoita
que grita
como louca
que goza
como vento
e geme
como mulher

por Carlos Seabra
fotografia de Santillo

sexta-feira, 18 de abril de 2008

(H)eros


Tu avais accepté de me les confier …

D’abord,
Je n’avais pu m’empêcher de les regarder
Longuement
Les effleurant du bout des yeux
Surtout, ne pas les effaroucher …

C’étaient coussins de mousses et d’herbes de tourbières
Végétations rases et douces des bords de falaises
Léchées et caressées par le vent …

Galets emmaillotés de goémons séchés

Ma main n’osait pas la première caresse …
Le contact
Aurait peut-être rompu le charme …

Elles rebondissaient en joues
Et s’accomplissaient en un sourire …

Malice et humour
Clin d’œil engageant
Elles m’invitaient
Me priaient
Me conviaient …

Pas la peine de résister …

J’approchai ma paume
Sans toucher

Vibration et chaleur
Douceur
Rondeur
Je tentais un frôlement
Ce fut
Sable de plage
Toison et chaton
Bulles et coton
Voyage dans le ventre de la mer

Puis cueillette d’api :
Dans chacune de mes mains
Je tenais … enfin
Tes fesses !

par Dominique Noël
photographie de Johannes Barthelmes

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Saudades


De quem é esta saudade
que meus silêncios invade,
que de tão longe me vem?

De quem é esta saudade,
de quem?

Aquelas mãos só carícias,
Aqueles olhos de apelo,
aqueles lábios-desejo...

E estes dedos engelhados,
e este olhar de vã procura,
e esta boca sem um beijo...

De quem é esta saudade
que sinto quando me vejo?

por Gilka Machado
fotografia de Filipe Pereira

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Pororocas


Os prazeres do corpo
adoçam, alegram, cicatrizam.
Abaixo diques, represas!
Sinto o temporal caindo
no deserto. Secreto.
Liberando sumos. Virando Amazonas.
Abaixo a aridez!
Meus fluidos correm livres outra vez!
Quero foz, quero delta, quero muitas pororocas!
Quero muito! Quero mais! Do bom e do pior!
Quero aprender, crescer, evoluir
como a Mocidade na Sapucaí!
abraçando generosamente tudo que me cabe:
o ruim e o melhor! Sem restrições.
E poder finalmente concluir
que tudo depende do ponto de vista,
que são muitos, que são mis.
Abaixo maniqueísmos! Abaixo racismos!
Vivam os quereres! E os amores! E os
desamores!
Mentes míopes, empoeiradas,
hipermétropes e cansadas
pouco podem perceber!
Visão estreita. Mente estreita.
Estreito é o nosso olfacto, o nosso tacto.
Faixas limitadas. Limitadíssimas.
O corpo é o limite! Socorro!
Quero jogar tanto xadrez quanto porrinha.
Admirar Picasso e Newton Bravo.
Me deliciar com adoçante, sal marinho,
fel e açúcar mascavo.
Quero amar o ateu e a freirinha.
O belo e o feiinho.
E amar. E ter prazer. E transcender.
O limite...

por Eliane Stoducto
fotografia de David Steinberg

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Il et Elle


Voyant sa nudité, Il se dresse
Fier et toujours prêt à partir
A l’assaut d’un territoire
Déjà conquis par son désir

Voyant son érection, Elle s’avance
Pour lui donner du plaisir
Avec ses mains et sa bouche
Qui l’engloutit et l’aspire

En entendant ses soupirs
Elle sent ses tétons se durcir
Son clitoris et son vagin tiédir
Et ne se retient pas de gémir

Sa faim inassouvie
Elle engloutit ses couilles
Et s’enhardit jusque
Vers son anus si joli

Puis remonte vers ses seins
Qu’Elle titille et mord
Vers sa bouche enfin
En le couvrant de son corps

Humide et chaud
Puis se glisse à nouveau
Entre ses reins
Pour prodiguer ses soins

A son membre épuisé
De baisers et de caresses
Qui finit par se rendre
A sa passion débridée

En un jaillissement qui libère
En un cri et un soubresaut ultimes
Comme une vague qui submerge
Et Le laisse heureux et sans force.

par Lara Vanel Coytte
photographie de Santillo

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Beijo


O melhor beijo é o beijo desejado,
o beijo que me completa,
o beijo da minha forma adequada,
o beijo com o sabor do desejo
na flor da minha pele,
o beijo da minha vontade,
o beijo que faz o meu pensamento,
o beijo que faz a minha boca e
meu corpo querer um novo beijo
outra vez e mais outra vez.
O melhor beijo é o beijo sem tempo,
o beijo de longa duração ou de pouca duração,
um beijo de vinte segundos
ou de vinte minutos, isto não importa.
O tempo não conta,
enquanto se beija o tempo para, o tempo freia.
E nesta inércia do tempo
só sinto a louca vontade do outro.
Sinto a outra língua que de encontro
com a minha faz um passeio suave e
excitante humedecendo minha alma.
Sinto a língua que viaja dos
dentes ao céu da boca.
Sinto a língua que acarinha os
meus lábios. A língua e a língua...
A língua que me roça, que me percorre,
que me navega e que me lambe...
O melhor beijo é o beijo em que a língua
faz o beijo e o beijo faz o sexo.

por Cigana
fotografia de Robert Baham

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Quem ri quando goza


quem ri quando goza
é poesia
até quando é prosa

por Alice Ruiz
fotografia de Ondatr

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Tango


Chorava um bandoneon
Num canto de bar.
Meu vestido vermelho
O cabelo preso numa flor,
E o tango falando de amor,
Contrastavam com a luz neon.
Nossos corpos em uníssono,
Um ballet tão sensual...
Movimentos em compasso,
Acompanhavam cada passo
Deste tango figurado,
Como um estranho ritual.
Batia o coração descompassado!
Teus lábios sensuais me enfeitiçavam,
Tuas mãos macias brincavam em mim
Como o vento brinca, namorando
As flores de um jardim.
Teus olhos escuros, meio ciganos,
Insinuavam promessas,
Dessas, que misturam
Amor, desejo, paixão e mais, muito mais...
Um perfume no ar
E abraçado ao violino
Solitário bailarino,
O bandoneon a chorar
Um velho tango de amor,
Naquele canto de bar!

por C. Almeida Stella
fotografia de Alois

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Desejo


Vem...
Que te espero... nua...
Não mais há lugar para o pudor...

Vem...que te quero, nu...
Fecha-me os olhos com teus beijos,
faz-me sonhar com teus desejos...
Faça-me mulher com teu ardor...

Vem...
Que quero agora
acariciar teu corpo levemente,
beijar-te os lábios, sofregamente...
Sugar tua seiva com minha
boca quente...

Deixar-me penetrar por teu furor...
Vem...
que sou mulher,
te quero homem,
vem...
deixa-me viver esta fantasia
de amor...

por Asta Vonzodas
fotografia de Max Maxwell