sexta-feira, 30 de maio de 2008

A metade


Sinto tantos desejos estranhos
quando te vejo tão sensual
olhar no fundo de teus olhos castanhos
e te fazer feliz de modo sem igual....

acariciar-te por inteira
dizer-te bobagens ao ouvido
deitar-te numa esteira
e me sentir totalmente envolvido...

Pois teu cheiro me desperta o olfacto...
tua voz me comanda de forma aberta...
quando sinto a tua pele macia, de facto...
é como ter achado a metade que me completa...

Por Ronilson Rocha
fotografia de Luminosity

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Cântico


Num impudor de estátua ou de vencida,
coxas abertas, sem defesa... nua
ante a minha vigília, a noite, e a lua,
ela, agora, descansa, adormecida.

Dos seus mamilos roxo-azuis, em ferida,
meu olhar desce aonde o sexo estua.
Choro... e porquê? Meu sonho, irreal, flutua
sobre funduras e confins da vida.

Minhas lágrimas caem-lhe nos peitos...
enquanto o luar a numba, inerte, gasta
da ternura feroz do meu amplexo.

Cantam-me as veias poemas nunca feitos...
e eu pouso a boca, religiosa e casta,
sobre a flor esmagada do seu sexo.

Por José Régio
fotografia de Ellington

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Deixa-me tocar teu rosto


Deixa-me tocar o teu rosto
Como se cega eu fosse
Para encontrar o caminho
Que termina na tua boca.

Deixa-me tocar o teu peito,
Tactear o relevo dos músculos,
Subindo e descendo minha mão
Até chegar à planície

Do teu ventre ensolarado e rijo
Estrada que me leva até a fonte,
Entre os rochedos das tuas pernas
Para que eu prove a tua água viva.

Deixa-me mergulhar nas ondas
Que fazem teu corpo dançar indecente
Quando lanço a rede da língua
Para recolher teus profundos suspiros.

Enfim, perdida na tua geografia,
Que não canso de estudar
Faço fantásticas descobertas
De novos continentes eróticos,

Onde dormitam teus secretos vulcões
Que activo com o estopim dos meus beijos
Para sentir dentro de mim
A lava fervente escorrer...

Por Maria Hilda de Jesus Alão
fotografia de autor desconhecido

Lisboa ainda

Não resisti... a viagem de regresso ao Porto fica para amanhã de manhã bem cedinho, no primeiro comboio a sair de Lisboa.

Um beijo

Pedro M.

sábado, 24 de maio de 2008

Lisboa


Lisboa novamente. Ultimamente tenho viajado pouco, pelo que aproveito todas as oportunidades que tenho para sair do Porto.
Esta segunda-feira estarei em Lisboa. Um pequeno projecto em curso, uma reunião de trabalho e imediatamente me ofereci como voluntário. Terei tempo para passear e visitar a cidade. Espero que o tempo melhore um pouco, sempre gostei do sol e da luz de Lisboa.
É pois provável que o meu post de segunda-feira seja adiado para o dia seguinte. Vou levar a minha máquina fotográfica, quem sabe as tágides me inspirem.

Pedro M.

Fotografia de Ana Dias

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Sob o chuveiro amar


Sob o chuveiro amar, sabão e beijos,
ou na banheira amar, de água vestidos,
amor escorregante, foge, prende-se,
torna a fugir, água nos olhos, bocas,
dança, navegação, mergulho, chuva,
essa espuma nos ventres, a brancura
triangular do sexo — é água, esperma,
é amor se esvaindo, ou nos tornamos fontes?

Por Carlos Drummond de Andrade
fotografia de Oleg Kosirev

quarta-feira, 21 de maio de 2008

La amante


Soy la amante
que estrenas,
la nueva, la eterna,
la de muslos trigueños,
columnas seguras
que se abren perfectamente
para dar paso
a tu mar ancho y espeso.
Soy la de paralelas montañas,
erectas, duras,
por donde han caminado
pájaros heridos de amor.

Soy la amante nocturna,
la de noctámbulos besos,
(mis ojos, túneles profundos
donde se pierde la soledad).

Soy la de siempre, la eterna,
la que te arranca el hastío
de cada costado,
la que se tiende plácidamente,
la que se para,
la que te sorprende,
la que se quita las vestiduras
y se lava en tu río claro.
Soy la que te crucifica
con mis ojos, con mi lengua,
la que se pierde
en tu mirada leal,
la que infatigable
recorre tu cuerpo,
la que vibra con devoción
en tu silencioso mundo.
Soy ella, la eterna,
la antigua, la nueva,
la de siempre
la que se cierra
la que se abre
la de ambivalentes tardes.
Soy la que renace,
la que se abre
la que se cierra.

Por Orietta Lozano
fotografia de Stanislav Blazhenkov

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Sete luas


Esta noite sete luas,
sete luas cheias,
rolaram juntas nos céus.
Dançaram nuas
sem pudor nem véus.
Vieram as estrelas,
as fadas e os anjos
deram-se as mãos
e fizeram roda
à roda da lua
sete vezes branca.
Vem, meu amor,
escuta seu canto.

Por Eugénia Tabosa
fotografia de Stephen Haynes

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Passeio


Blusa em organza branca
em transparência delicada
insinuando
mostrando tudo... mostrando nada

Botõezinhos perolados... semi-abertos
delicados...
guardam uma fronteira
entre a imaginação e a realidade
de caminhos inexplorados

Tua mão se perde na transparência
dessa diáfana blusinha.
Atravessa timidamente os limites
que os botõezinhos entreabertos deixam ver
e que o teu desejo... adivinha

Tua mão é macia
ela vai brincando,
acarinhando
invadindo a minha geografia
explorando vales, montes, planícies,
detendo-se um pouco aqui
um pouco ali,
desvendando caminhos nunca trilhados
criando atalhos...

Minha pele sente o teu toque,
a tua sedução
e no calor da tua mão
ela vibra
pede mais.

Em seu passeio sensual
tua mão desperta em mim
milhares de sensações
e aquela coisa tão louca
aquele grande desejo
de ter...

não somente a tua mão...
assim...
a me percorrer...
mas também... a tua boca!

por C. Almeida Stella
fotografia de Amanda Com

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Seios


Sei que não é para mim
teu leite tão doce
e que a boca que o tem
não te deseja como eu...

Sei que não posso beber tudo
que devo sugar pouco
algumas gotas de teu mel
mas que me alucinam...

Sei que logo vai secar
em breve teus seios voltam
teu filho desmama
e não mais mamarei eu...

Sei que sempre sugarei
teus peitos generosos
teus mamilos penetrantes
tuas carnes que desejo...

Sei que quero te beber
beber-te toda e para sempre
na forma de leite, saliva,
em tua boca, seios e vagina!

por Camila Sintra
fotografia de Evgeniy Bokser

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Tudo


Quando eu bebo,
bebo tudo.
O licor desejado e aquele
que ainda couber...

Talvez ainda sobre espaço para beber
para anestesiar a ressaca de ontem.
Penetrar no recinto dos fantasmas
e participar dele.

Saber-se na vertigem
das perdições inconcebíveis.
Saber-se à boca da sarjeta
os restos de lua e luz
confusa, difusa
das percepções da noite.

Sim, a visita de Neptuno
com seus mares
com suas águas
onde tudo pode ser e nada é.

A ingestão do âmbar
o cheiro dos perfumes...

A náusea de saber-se
uma pequena tristeza
na multidão dos seres
na noite de todos os desesperos.


Quando eu como,
como tudo.
Como se buscasse saciar
a fome do mundo.

Como não fosse o amanhã
o construtor do prato feito.
Como se fosse necessário
criar a reserva para
as sete vacas do porvir.


Quando eu amo,
amo tudo.
Eu te quero,
e quero toda.

Quero beber e comer de ti
pois é essa a verdadeira sede
e fome a ser saciada.

Pois é esse o verdadeiro desejo
e não é só de prazer.
É a real necessidade de ter tudo
da mulher que amo.

E saber-se inteiramente contido
em cada gota de esperma,
saliva, sangue ou suor
por ti e por mim derramada
imolada, ofertada...
no perfeito acto de entrega.

Sem meias porções,
sem meias sensações
sem mascarar as ilusões
e sim esculpir na carne,
construir nas porosidades
de todos interstícios
a mistura de humores
o miscigenar de espíritos.

Assim, cada vez que eu te amar,
te amarei por inteiro
e você inteira.

E na explosão
meu gozo será com o teu
para dar todo impulso
e te encontrar.
flor escancarada,
pronta para germinar
e criar dentro de ti.

Quererei ser teu
dentro de ti. Vivo.
Vivo, carne, alma.
Ser.
Todo.
Teu.

por CAlex Fagundes
fotografia de Ludovic Goubet

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Orgia


Gemidos
Sussurro
Lábios, pele, beijo
Em seus ouvidos
Ainda procuro
Como descrever o que vejo?
O que sinto ao te ver
Em meio a essa orgia
Nunca quis te pertencer
Tão livre, e você nem sabia
Tudo que poderia
Encontrar
Experimentar
Em si mesma, você
Minha nudez
Meu prazer
Você vê
Um engano? Talvez
Eu queira ser
Sua, talvez, eu nem sei
O que eu senti?
Ao te ver me olhando
Você beijando alguém
Uma pessoa gemendo
E eu gozando
Quero o seu beijo, vem
Estou dizendo
Sussurrando
Meus lábios te procurando
E outro corpo me domina
Outra língua me fascina
Vários corpos, sua mão
E eu tento dizer
Eu te amo
Amo sua mão
Mas você nem vai saber
Que era pra você que eu falei
E foi então
Nesse exacto momento
Que escutei
Algum pensamento
Alguém pensando em voz alta
"aquela ali, a ruivinha
a ruivinha é a mais tarada"
Eu, tarada?
Nem vou responder
Te amo calada
E nem vou me arrepender
De estar te pervertendo
Você não era assim
Se liberte em mim
Amor, orgia
Talvez algum dia
Você saiba que eu sentia

por Liz Christine
fotografia de Oleg Kosirev

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Ice cream


Your cool oasis
long and lean
shimmering in sunlight
icy and fresh

It is
so...

hot.
The pavement steams
the city undulates
sweltering
under
its flesh.

Caramel and chocolate
and vanilla skin
is faded and pale
drowning
in summer sweat.

Can I dip my tongue
into your coolness?

Let me taste your ice
tickling my lips
bathe your crystals
in my heat
until your frost...

melts.

by Carla Dodd
photography of D.L.

Um pouco de mim

Prometi que revelava um pouco de mim num jogo de associação de ideias. Bom, aqui vai.

Pedro M.

Família: duas miúdas arreliadoras, estouvadas… amorosas. Quando crescerem vão ser uma dor de cabeça, ai vão vão.
Homem: hummm… prefiro o género feminino.
Mulher: todas aquelas que cultivam a graça, a subtileza, a sensualidade e a feminilidade.
Sorriso: bonito, sincero.
Perfume: natural de mulher.
Carro: MGB.
Paixão: é sempre intensa.
Amor: é sempre duradouro.
Olhos: brilhantes, a sorrir.
Sal: e pimenta! São essenciais em qualquer relação.
Chuva: à beira-mar, com um pouco de nevoeiro.
Mar: revolto, vida em constante mutação.
Livro: antes de adormecer.
Filmes: A Insustentável Leveza do Ser. E claro, Kim Basinger em Nove Semanas e Meia.
Músicas: muitas.
Dinheiro: é acessório.
Sonhos: ahh!!! Esses são pessoais.
Cidade: é um estereótipo… Paris.
País: Espanha… fascina-me.
Não sei viver sem: alegria.
Nunca deixar de ser: solidário.
Qualidades: outros que falem delas.
Defeitos: teimoso.
Gostos: a esta não sei responder.
Não passarei: sem visitar uma data de sítios.
Detesto: promessas não realizadas.
Pessoa: não tenho um ídolo, todas as pessoas têm valor.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Secundário


No círculo
dos quatro cantos
no meio, nós
somos dois ou um?
Abrimos os corpos
as pernas, a vida
adentram os poros
a seiva
a cada subida
e cada entrega
rega
o suor de orgasmos
múltiplos
sem clímax...
O poder do toque
nas mãos
não qualquer um
mas aquele
não qualquer língua
mas a sua
não qualquer sexo
mas o tanto
possante que me adentra
saliva que alimenta
o gozo
extraordinário
que torna o auge
do acto
um acto
secundário

por Isabel Machado
fotografia de Margot

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Educação sentimental


Põe devagar os dedos,
devagar…

carrega devagar
até ao cimo

o suco lento que
sentes escorregar

é o suor das grutas,
o seu vinho

Contorna o poço,
aí tens de parar,

descer, talvez,
tomar outro caminho…

Mas põe os dedos e sobe,
Devagar…

Não tenhas medo
Daquilo que te ensino…

por Maria Teresa Horta
fotografia de autor desconhecido

poema sugerido por Jade