sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Masturbação



Eis o centro do corpo
o nosso centro
onde os dedos escorregam devagar
e logo tornam onde nesse
centro
os dedos esfregam ― correm
e voltam sem cessar

e então são os meus
já os teus dedos

e são meus dedos
já a tua boca

que vai sorvendo os lábios
dessa boca
que manipulo ― conduzo
pensando em tua boca

Ardência funda
planta em movimento
que trepa e fende fundidas
já no tempo
calando o grito nos pulmões da tarde

E todo o corpo
é esse movimento
que trepa e fende fundidas
já no tempo
calando o grito nos pulmões da tarde

E todo o corpo
é esse movimento
em torno
em volta
no centro desses lábios

que a febre toma
engrossa
e vai cedendo a pouco e pouco
nos dedos e na palma

Por Maria Teresa Horta
Fotografia de autor desconhecido

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Na penumbra


Raiava, ao longe, em fogo a lua nova,
Lembras-te?... apenas reluzia a medo,
Na escuridão crepuscular da alcova
O diamante que ardia-te no dedo...

Nesse ambiente tépido, enervante,
Os meus desejos quentes, irritados,
Circulavam-te a carne palpitante,
Como um bando de lobos esfaimados...

Como que estava sobre nós suspensa
A pomba da volúpia; a treva densa
Do teu olhar tinha tamanho brilho!

E os teus seios que as roupas comprimiam,
Tanto sob elas, túmidos, batiam,
Que estalavam-te o flácido espartilho!

por Raimundo Correia
Fotografia de Yan McLine

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Rendez-vous


São 6 da manhã, o acordar apaga o dormir
Sinto o começar de mais um dia
para minha surpresa ao meu lado, um deus materializa-se
Frente a frente suspenso o tempo fica
Tenho a certeza de que nos conhecemos noutro tempo, noutro lugar...

Quando chegas até mim os nossos olhos encontram-se,
como duas almas gémeas e num piscar de olhos
tento imaginar o que tenho andado a perder
Então, viro-me e pergunto-te se também queres...

Rendez-vous? Onde? Na minha?... Diz sim!... e fazemos o que quiseres...
A noite é tua!

Fechaste os olhos, espera um minuto, um momento... repara!
Quando fantasias, é comigo?

À noite... eu serei tua...

Passou tanto tempo sem...
não posso negar o que sinto,
por isso, novamente pergunto

Rendez-vous? Onde? Na tua?... Sim!... e faremos o que quiseres...
A noite será minha e tua.

Provocação de Jade
Fotografia de Ellington

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Modo de amar ― IV


Encostada de costas
ao teu peito

em leque as pernas
abertas
o ventre inclinado

ambos de pé
formando lentos gestos

as sombras brandas
tombadas no soalho

Por Maria Teresa Horta
Fotografia de Santillo

terça-feira, 21 de outubro de 2008

(A)pelo


Sente, sente, sente
Minha vulva chama-te
Tua ausência ela reclama

Mantra, mantra, mantra
Meu corpo todo canta
A esperar por tua dança

Mentes, mentes, mentes
Se dizes que não queres
O que teu falo clama

Tantra tantra tantra
Não há espírito que aguente
Tanta ausência de repente...

Doente, doente, doente
Ficarei totalmente exposta
Se para meus apelos
Tu não deres respostas

Sonha, sonha, sonha
Com meu corpo em minha cama
Vem, sente, toca, toma:
meu corpo todo em chamas

Por Gueixa
Fotografia de Martin Kovalik

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Face do desejo


Lume.
A dança da chama,
bailarina esguia.

Pele.
Aceso toque da noite
leve invisível.

Antepercebe-se
a flauta do fauno
invadindo a sala.

A boca percorre
palavras de veludo
sorvidas aos tragos.

Sabe-se nada...
a alma é tomada
e tudo é momento.

Agora.
a noite é hora
neste aposento.

Toca o pêlo
entumescimento
das pontas.

Lambe a aura
da divindade
vaga.

Penumbra.
Chama do fogo,
lenho de carne.

Inebriam-se os lábios.
Frêmito.
Espírito absorvente da noite.

Cabelos
dedos em novelos
nebulosas e redondilhas.

Ilhas.
Crespos.
Águas.

Deitam-se a verter
ao sabor do nascituro,
eremita de fogo.

Gomo de fibras.
Lábio sorve a sede

da água que verte.

Um vaso aberto,
gardênia em chamas,
carmesim do fogo.

Ponto de fêmea.
Ambiente.
Atmosfera.

Hálito.
Perfume.
Máscara.

Sangue
em pele
marfim.

Cambraias
abertas
em pernas de mulher.

Heliocêntricos
raios olhos
fixos no nada.

Músculos tesos.
Húmida.
Tépida.

Abre-se a porta.
Rude o peregrino
chega e faz morada.

Língua molhada
ao encontro
de alvéolos e esponjas.

Água salgada
maresia de fêmea
Sede de nervos

e músculos
a forçar
entranhas.

Brumas
sanguíneas,
cama de ferro.

Fêmea de
pernas
escancaradas.

Cortina de gaze.
Vento marítimo.
Odor de dentro.

Envolvente
o prazer
da mulher deitada.

Faz de mim o tempo.
O simples pulsar
dentro de ti.

Anjo, te faço fêmea.
Mulher, te faço anjo.
Faço-te gozo.

O gozo de meu sangue
é o leite
que te serve.

Na águas de tua
fonte afogas
a minha sede.

A língua percorre
um fio na topografia
de montes e vales.

A fêmea é terra
latente na eterna
espera da semente.

Penumbra do quarto
olhos da noite.
Como me achas?

Como me vês?
Como sabes trazer-me
pra dentro de ti?

O vinho.
A noite.
O silêncio.

Nada além das janelas
Nem mesmo horizontes existem
num quarto de casal.

Deposito em ti a minha
Eternidade.
Sou teu amante.

E deito em ti
minhas surpresas em forma
de farsas adocicadas.

Quando dormes e acordo
com teus gemidos persigo
teu gozo com meu pensamento .

Vejo-te outra,
longe de mim,
a se espargir no éter.

Teu corpo é belo
tua mente, insana
quando deitas na cama

e te cobres de pétalas.
A alma da mulher
se esconde num beijo.

Por CAlex Fagundes
Fotografia de Lady O

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Paris


Caminhavas lento
o corpo solto
quase displicente
à volta do rosto
cabelos dourados
pelo sol poente.

Imaginei-te nu
qual estátua viva
apenas saída
do museu em frente.

E ali fiquei parada
no banco da praça
olhando esquecida
de encobrir o olhar.

E fui-te despindo
sonhando acordada
sem me perguntar
de tua vontade.

Passaste sorrindo
atrasando o andar,
como se estiveras
num espelho a entrar.

Por Eugénia Tabosa,
fotografia de Scott Church

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Insana


Jogo-me nua,
nos teus solidários braços
escrevo meus desejos nas tuas vontades,
em cada linha desse caminho sem volta.
Levando-me no rasto dos teus afagos.
Declamando a tua farta poesia,
pelos meus cantos em demasia,
na pausa latejante do teu verso,
fazemos amor de modo perverso.
Em poemas molhados de abraços.
Guia a língua que te sacia,
a tua boca que me beija louca,
na fusão de nossos laços.
Entrego-me nas tuas mãos de pecado,
ao som dos teus sussurros rimados,
Sinto o teu prazer amanhecer,
no brilho desse teu olhar parado.
Na ousadia deliciosa dos teus gestos.
Insana...


Dedicado pela autora, Carinho
Fotografia de Howard Schatz

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Modo de amar ― III


É bom nadar assim
em cima do teu corpo
enquanto tu mergulhas já dentro do meu

Ambos piscinas que a nado atravessamos
de costas tu meu amor
de bruços eu

Por Maria Teresa Horta
Fotografia de Lizbeth

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Teu cheiro


Guardo o teu cheiro em mim…

Sinto-o...

.........descarado ….

A brincar no meu corpo….

Coberto de água e gel…

A infiltrar-se….

Nesses caminhos que escondo…

E agora desnudo….

Para que os enlaces…

Com paixão e prazer…………

Dedicado pela autora, Marta
Fotografia de Elira

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O meu sonho


A noite já ia longa e eu já te esperava. Sentada naquela rocha junto ao mar, aguardava-te enquanto ias buscar a nossa bebida.
Encostei os meus joelhos ao meu queixo e abracei-os com os meus braços.
Ao fundo olhava-te. Via-te andar descalço sobre a areia molhada da praia.
A tua imagem era projectada sobre as ondas que te beijavam os pés e o horizonte onde as estrelas e a Lua resplandeciam. O seu brilho confundia-se com o fulgor da tua silhueta.
Eu continuava a olhar-te, até te sentares a meu lado.
Juntos de mãos dadas, apenas nós na companhia do imenso mar e das estrelas.
Entre beijos e carícias deito-me sobre a areia molhada, enquanto tu soltas as alças da minha blusa, uma por uma. Sinto o meu coração a bater cada vez mais depressa e os meus lábios a procurar a tua língua.
A tua mão percorre o meu peito tornando os meus mamilos cada vez mais tumentes.
E tu curvado sobre mim beijas-me.
Com a minha mão procuro o teu sexo. Já está duro e quente. Como estás excitado! Desaperto as tuas calças e agarro-o. Sinto-o latejar em minhas mãos.
Levantas a minha saia e com a tua mão percorres as minhas coxas querendo silenciosamente chegar ao teu porto de abrigo. Afastas-me as pernas e tocas-me. Sentes-me húmida. Com os teus dedos torneias o meu sexo.
Arqueio meu corpo de desejo. Sentindo cada toque teu.
A tua língua percorre o meu corpo, poro a poro. Deixas-me louca. Com desejo que me possuas à beira mar.
Entre gestos e carícias, sinto a minha boca a percorrer o teu corpo. De repente paro e sinto o calor que emana o teu sexo. Não resisto, beijo-o. Com a língua percorro-o e aí tu soltas um gemido e palavras que não consigo decifrar. Como sinto a tua inquietude. Enquanto devoro o teu sexo sinto as tuas mãos trémulas percorrerem o meu cabelo e o meu rosto.
E num ápice sinto-te já dentro de mim, penetras-me. Grito de prazer.
E tu beijando meu peito, mordiscando-o, entras e sais em mim… sinto o fogo a percorrer o meu corpo e grito que não aguento mais, mas quero e peço que não pares. O teu rosto malandro sobre os meus olhos deixa cair gotas de suor. Sinto o teu corpo cada vez mais intenso. Eu gemo eu grito e tu não paras. E tu gemes vincando o teu rosto com aquela expressão que é só tua. E das minhas entranhas o gozo é derramado. Os nossos corpos cansados do ritmo alvoroçado, descansam um sobre o outro. Ali, na companhia do mar que quase nos beija os pés, onde conjuntamente com a Lua e as estrelas testemunha um momento de prazer e de paixão. Onde dois corpos se unem por um momento único de prazer. E amaste-me ali junto ao mar, onde o horizonte se transformou em prata e as ondas do mar cantaram apenas para nós.

Para ti Pedro M. Um beijo molhado pela espuma branca do mar que molha os nossos corpos.

Dedicado e escrito por uma leitora anónima
Fotografia de autor desconhecido

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Modo de amar ― I e II


Modo de amar – I

Lambe-me as seios
desmancha-me a loucura

usa-me as coxas
devasta-me o umbigo

abre-me as pernas
põe-nas nos teus ombros

e lentamente faz o que te digo:

Modo de amar – II

Por-me-ás de borco,
assim inclinada...

a nuca a descoberto,
o corpo em movimento...

a testa a tocar
a almofada,
que os cabelos afloram,
tempo a tempo...

Por-me-ás de borco;
Digo:
ajoelhada...

as pernas longas
firmadas no lençol...

e não há nada, meu amor,
já nada, que não façamos como quem consome...

(Por-me-ás de borco,
assim inclinada...

os meus seios pendentes
nas tuas mãos fechadas.)

Por Maria Teresa Horta
fotografia de autor desconhecido