terça-feira, 18 de junho de 2024

Porque há desejo em mim


Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outono decantado
Surdo à minha humana ladradura,
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne osso, laborioso, lascivo,
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.

por Hilda Hilst
fotografia de autor desconhecido

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