quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Espanto deitado


Primeiro foi uma sensação a veludo nas mãos, a carne à flor da pele
era macia de um modo tão suave a pedir só mansidão e elas
as mãos, transcorriam bêbedas com todos os seus 10 dedos nas polpas sensíveis e
eu lá ao fundo, no final da sensação, navegava com toda a preguiça esboçada do mundo

por aquele mar de novidades que o teu corpo me emprestava
no silêncio ofegante da noite.


Estavas ali deitada, absorta no teu sonho inteiro de ser
escultura para as minhas mãos, e eu sentia-te a crescer nas ondas da respiração e
de um lado e do outro, ambos éramos mais próximos
como se houvesse uma indeterminada luz pelo meio,

que tínhamos de possuir exactamente ao mesmo tempo.


Tudo ilusão.
E, no entanto não era. Eu estava ali, tu também, éramos dois corpos
com as portas abertas a tudo. A aragem das mãos esvoaçando sobre

a tua pele de veludo, era o que sobrava do silêncio de chumbo
que os nossos corpos mortais no fundo faziam. Havia entre nós
um nó inteiramente aceso por dentro, onde as línguas mais aprumadas
já não soltam palavras.

E os gestos criavam outros mundos, onde só nós cabíamos,
onde só nós éramos quase perfeitos
à espera de o sermos.

por José Alberto Mar
fotografia de Will Santillo

2 comentários:

duda disse...

nada melhor que mãos habilidosas que abram caminho para o resto...

Pedro M disse...

Ohhh Duda...

como adoraria perder-me em seus caminhos...

Um beijo