sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Mimosa boca errante



Para todas as minhas leitoras, com votos de um Feliz Ano de 2016!!

Um beijo
Pedro M.


Mimosa boca errante
à superfície até achar o ponto
em que te apraz colher o fruto em fogo
que não será comido mas fruído
até se lhe esgotar o sumo cálido
e ele deixar-te, ou o deixares, flácido,
mas rorejando a baba de delícias
que fruto e boca se permitem, dádiva.

Boca mimosa e sábia,
impaciente de sugar e clausurar
inteiro, em ti, o talo rígido
mas varado de gozo ao confinar-se
no limitado espaço que ofereces
a seu volume e jato apaixonados
como podes tornar-te, assim aberta,
recurvo céu infindo e sepultura?

Mimosa boca e santa,
que devagar vais desfolhando a líquida
espuma do prazer em rito mudo,
lenta-lambente-lambilusamente
ligada à forma ereta qual se fossem
a boca o próprio fruto, e o fruto a boca,
oh chega, chega, chega de beber-me,
de matar-me, e, na morte, de viver-me.

Já sei a eternidade: é puro orgasmo.

por Car­los Drum­mond de Andrade
fotografia de autor desconhecido

2 comentários:

Ly disse...

um sussurro de bom ano

Pedro M disse...

mmm... Ly...
ao escutar o seu murmúrio... desejei...
escutá-lo... num momento a dois...
entre lençóis de setim...
no calor do prazer...
Um beijo, e um bom ano para a Ly