quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Nas ervas


Escalar-te lábio a lábio,
percorrer-te: eis a cintura
o lume breve entre as nádegas...
e o ventre, o peito, o dorso
descer aos flancos, enterrar

os olhos na pedra fresca
dos teus olhos,
entregar-me poro a poro
ao furor da tua boca,
esquecer a mão errante
na festa ou na fresta

aberta à doce penetração
das águas duras,
respirar como quem tropeça
no escuro, gritar
às portas da alegria,
da solidão.

porque é terrivel
subir assim às hastes da loucura,
do fogo descer à neve.

abandonar-me agora
nas ervas ao orvalho -
a glande leve.

por Eugénio de Andrade
fotografia de Garm

2 comentários:

Marta Vinhais disse...

Sentir a paixão a tomar conta do corpo e respirar num grito que enche a garganta.... Que não pode, não deve ser sufocado....
Na verdadeira loucura dos amantes....
Boa escolha....
Beijos e abraços
Marta

Pedro M disse...

mmm Marta...
é um gemido que escapa, num sufoco de prazer...
Um beijo