quinta-feira, 23 de junho de 2016

Liquefação

Sou líquida, abundante
entre as pernas
e as retinas

esgueiro-me nas esquinas
dos desejos
fugidios

cozinho em banho-maria
meus cios
e tormentas

espalho meus gozos
em rosas
e em espinhos

líquida, embebida
e regurgitada

(saciada e exaurida...
entre o formicida e a espada)

por Cefas Carvalho
fotografia de autor desconhecido

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Não estás a meu lado


Virilha contra virilha
reconstruo o meu corpo
colado ao teu. Choro.
Não estás a meu lado.
Virilha contra nádega
asas de salvação efémera
reconstruo o teu corpo
junto ao meu. Choro.
Sem os meus braços
envolvendo-te a cintura,
sem as tuas pernas no meu pescoço,
sem a tua mão moldando-se
ao meu ventre
choro: não estás a meu lado.
Sem a tua boca
no meu peito, a tua língua
no meu sexo, os teus seios
soltos, desenfreados
choro: não estás a meu lado.
Sem as tuas fendas
e lagos sou um pobre animal
desamparado, e choro
sobre o teu ninho nos lençóis
em que não posso derramar
o olhar o sémen as palavras
de quando estás a meu lado.

por Casimiro de Brito
fotografia de autor desconhecido

terça-feira, 7 de junho de 2016

Glosa a Providência

Santos pecados...
cometidos
(ou sufocados?!)
às mãos de Manuela!

Terá Satanás previsto,
a audácia,
o tamanho risco
de confiar em mãos alheias
tal capacidade de tocar...?!

de uma leitora anónima
fotografia de Mikhail Nekrasov