quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O meu pedaço de ti


Por que será
Que só consigo
Te ver muito mais
Da cintura
Para baixo?

Isso me deixa intrigada...

Será que é essa
A tua parte
Que me pertence mais
E que por isso mesmo

Me deixa as pernas trôpegas,
Quando a entrevejo
Nas minhas miragens
E nas minhas etéreas divagações?

Será que é essa
A tua parte que,
Sôfrega,
Me sacia exaustivamente,
Por alguns instantes,
Na sua sofreguidão
Benfazeja?

Será que é essa
A tua parte
Que me mata o desejo
E que por isso mesmo
É que, quando procuro
Te vislumbrar
Na mente,
Só consigo
Te ver mais nitidamente,
Da cintura para baixo?

por Maria do Carmo Lobato
fotografia de Garm

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Espanto deitado


Primeiro foi uma sensação a veludo nas mãos, a carne à flor da pele
era macia de um modo tão suave a pedir só mansidão e elas
as mãos, transcorriam bêbedas com todos os seus 10 dedos nas polpas sensíveis e
eu lá ao fundo, no final da sensação, navegava com toda a preguiça esboçada do mundo

por aquele mar de novidades que o teu corpo me emprestava
no silêncio ofegante da noite.


Estavas ali deitada, absorta no teu sonho inteiro de ser
escultura para as minhas mãos, e eu sentia-te a crescer nas ondas da respiração e
de um lado e do outro, ambos éramos mais próximos
como se houvesse uma indeterminada luz pelo meio,

que tínhamos de possuir exactamente ao mesmo tempo.


Tudo ilusão.
E, no entanto não era. Eu estava ali, tu também, éramos dois corpos
com as portas abertas a tudo. A aragem das mãos esvoaçando sobre

a tua pele de veludo, era o que sobrava do silêncio de chumbo
que os nossos corpos mortais no fundo faziam. Havia entre nós
um nó inteiramente aceso por dentro, onde as línguas mais aprumadas
já não soltam palavras.

E os gestos criavam outros mundos, onde só nós cabíamos,
onde só nós éramos quase perfeitos
à espera de o sermos.

por José Alberto Mar
fotografia de Will Santillo

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O sexo é sagrado...


O sexo é sagrado,
como salgadas são as gotas de suor
que brotam dos meus poros
e encharcam nossas peles.
A noite é meu templo
onde me torno uma deusa enlouquecida
sentindo teus pelos sobre a minha pele.
Neste instante já não sou nada,
somente corpo,
boca,
pele,
pêlos,
línguas,
bocas.
E a vida brota da semente,
dos poucos segundos de êxtase.
Tuas mãos como um brinquedo
passeiam pelo meu corpo.
Não revelam segredos
desvendam apenas o pudor do mundo,
descobrem a febre dos animais.
Então nos tornamos um
ao mesmo tempo em que
a escuridão explode em festa.
A noite amanhece sem versos,
com a música do seu hálito ofegante.
O sol brota de dentro de mim.
Breves segundos.
Por alguns instantes dispo-me do sofrimento.
Eu fui feliz.

por Cláudia Marczak
fotografia de Pyasetskiy Roman

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Inevitável


Inevitável foi o toque
a procura
a consumação da loucura
a transformar nós dois
em um.
Nada foi comum
Tudo foi vital
anormal...
dentro da normalidade contida
no ato.
Inevitável foi o tato
e meus seios foram teus
... tudo... o corpo todo
sentiu-te em gula
nas entranhas
nas loucas manhas
da manhã-festim...

Inevitável
tatear-me em falso
pra sentir-te pleno
em mim...

por Isabel Machado
fotografia de Minnow e Sharky

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Les sens


Rien pour retenir
L'épanchement de mes sens en éveil
Le volcan en éruption de mes désirs
Entre mes vallons tu t'engonces
Au rythme furieux des marées
Ton mât hissé
Mes voiles au vent
Prêts à engendrer la tempête
En orbite des mamelons
De mes seins engorgés.
Prends-moi vite lentement
A tâtons, en plein jour
Ivre je consens
Ondulante pieuvre
D'extrémités qui s'enfoncent
De langues fuyantes qui lapent assoiffées
Les fuites cristallines de nos étreintes enflammées.
Le violon strident de nos corps tendus
Abouti chaviré en crescendo d'extase.
Entre mes cuisses jaillit l'amour
Coulée de lave incandescente
Que j'étends de mes paumes ouvertes sur mes flancs haletants,
Appaisée.

par Barbara Serdakowski
photographie de Will Santillo