quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

escrevo nu


está ela a me olhar de novo,
em sua janela, enquanto escrevo
a minha poesia suada.
tenho o bom/mau costume
de só escrever durante a madrugada,
e de só escrever nu.
ela fecha a cortina,
mas a luz atrás denuncia,
e lhe percebo a silhueta de pé,
completamente imóvel,
posso até sentir que ela respira fundo.
eu me levanto da mesa,
caminho a esmo pela sala e,
preguiçosamente,
paro diante da janela
e seguro o pau que inicia o despertar.
duro, deixo que ele aponte a janela,
e me masturbo para a silhueta que treme,
nos amamos de longe,
ela penetrada a distância,
termina por me surpreender:
pois, no instante em que goza,
e ela goza muito,
a vizinha escancara a cortina
e se mostra, inteiramente nua,
os seios, a bunda, a buceta a escorrer,
e eu gozo com ela, fartamente,
sobre a mesa, sobre a poesia,
como se fosse a cara dela a receber meu leite.
pela manhã, vejo-a sair, com o marido.
vai levar à escola os filhos,
e passa por mim na calçada,
onde trocamos um cordial bom dia.

por Guilherme Borges
fotografia de Stephanie
modelo: Evelyne V

Sem comentários: