terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A uma virgem


Ah! tu nem sabias que a tua púbis
tinha a exacta medida da concha
de minha mão, nem suspeitavas
quanto de teu seio transbordaria
da outra que por trás te enlaçava.
Só mal medias o espanto
de sentires-me o hálito arfar
em teus cabelos e em ti toda
com que te perdeste, já rendida
na surpresa de saberes-me
contra a firmeza da tua carne,
no trémulo susto da tua pele
que há tanto tal dia esperava.

Sussurraste ainda a medo
não quero, sou tão nova! Mas tudo
te era já maduro e quente
em tua boca de sede e línguas,
aberta como já essoutros lábios.

Nem choraste como choram
vãs as que perdidas se acham.
Nem uma lágrima te caiu. Era
apenas o suor puro e o sangue
e teus loucos olhos líquidos
que naquela hora e nos lençóis
ofereceras à vida misturados,
não por mim bem o sabias,
mas por outro que em tua casa,
daí a meses, daí a anos, todas
as noites se deitaria a teu lado,
cumprindo o destino de ter filhos.

Talvez por isso tenhas dito,
sem sorriso triste, sequer com gesto de
fingido amor, mas de olhos seguros,
certa quanto eu que nem haveria adeus:

Deixa, não foi nada, não tem mal.

por Manuel Rodrigues
fotografia de Aleksandr Zhernosek

2 comentários:

mari disse...

Devo confessar que quando vi o titulo desta última publicação fiquei curiosa! A sua leitura não me desanpontou e pareceu me, um pouco, a mim dirigido! Desculpa a presunção! Sangue, suor, desejo, corpos a descobrirem se! Bjs

Pedro M disse...

Minha querida Mari,

desejo e descoberta mútua.. a essência do erotismo e do prazer :-)

Um beijo