segunda-feira, 31 de março de 2008

Horas rubras


Horas profundas, lentas e caladas
Feitas de beijos sensuais e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas…

Ouço as olaias rindo desgrenhadas…
Tombam astros em fogo, astros dementes.
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata p'las estradas…

Os meus lábios são brancos como lagos…
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras…

Sou chama e neve branca misteriosa…
E sou talvez, na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras!

de Florbela Espanca
fotografia de Alexander Verne

sexta-feira, 28 de março de 2008

Os teus olhos


Os teus olhos
exigindo
ser bebidos

Os teus ombros
reclamando
nenhum manto

Os teus seios
pressupondo
tantos pomos

O teu ventre
recolhendo
o relâmpago

de David Mourão Ferreira
fotografia de S.M.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Cantiga mundana


De teus olhos retirei a tristeza,
bebi as lágrimas salgadas;
lambi o abandono.

Ofereci esperanças, doei certezas —
segurança — e os lambuzei
com o mel dos meus.

Da tua boca seca arranquei
o riso louco de macho corno,
o sorriso morto de Prometeu.

Com os dedos refiz os sulcos
da boca ferida.
E com minha própria saliva
matei tua sede de vida.

Lavei tua alma, e a vesti
novamente em brios.
E — como se não bastasse —
a enfeitei com fios,
roubados, dos pêlos do homem
que, antes de ti, era o meu.

Te abri as pernas, as portas,
a seiva e a cama.
Te banhei no gozo de infinitas
noites profanas.
Te ninei em cantigas mundanas.

Depois de lavado, lambido.
Já saciado, curado, vestido.
Retornastes a teu destino
de animal predador.
Me deixando apenas alguns
pêlos dourados — que recolhi —
esquecidos no cobertor.

de Márcia Leite
fotografia de Oleg Kosirev

segunda-feira, 24 de março de 2008

Teu corpo de Agosto


Teu corpo é Agosto

Tu cheiras a verão
por baixo das veias

Tu cheiras a quente

Tu cheiras à febre
do sangue maduro

Teu ventre de orgia
teu cheiro a sodoma
aroma-mulher

Teu corpo de Agosto
tem cheiro a Setembro.

de Manuela Amaral
fotografia de Gabriele Rigon

sábado, 22 de março de 2008

Desde ontem em viagem


Há já algum tempo que desejava voltar a Lisboa. Tive este fim de semana uma desculpa: por razões profissionais tenho de aqui estar segunda e terça-feira; então porque não vir mais cedo? Cheguei ontem, dia feriado. Não tinha marcado hotel, acabei por ter alguma dificuldade em encontrar um com internet. Amanhã é dia de rio e de mar: vou seguir o Tejo, encontrar o mar e encontrar-me no Guincho...

Pedro M.

Fotografia de Ricardo Lopes

A cor da paixão


Em desejo possuída
se joga,
se rasga,
se estraga
contra os móveis,
sobre as plantas,
entremuros,
se vê fera,
se faz cadela,
se morde serpente,
ferida em seu desvario
no mais escondido recanto do seu bem-querer,
no seu coração perplexo e ávido
que ela desfibra devagar.

de Regina de Fontenelle
fotografia de David LeBeck

quarta-feira, 19 de março de 2008

Púbis carente


Púbis carente
Saudades
Momentos contentes
gozo,
êxtases
suspiros

Gemidos
Gritos.

Pecado
Volúpia
Boca molhada
Pêlos molhados
Suor
pecados
Líquido salgado

Saudades
Púbis carente

de Geraldo Ângelo Rasputim
fotografia de David LeBeck

segunda-feira, 17 de março de 2008

O amor natural


Ao delicioso toque do clitóris
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.

Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.

E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da própria vida,
como activa abstracção que se faz carne,
a ideia de gozar está gozando.

de Carlos Drummond de Andrade
fotografia de Samantha Wolov

sexta-feira, 14 de março de 2008

Sexo/cama


Fui ordinária
requintada
tímida
Misturei poesia com vários palavrões
Gritei
Uivei
Gemi
Rasguei almofadas e lençóis

Fui carnaval de amor
no circo de uma cama.

por Manuela Amaral
fotografia de David LeBeck

quarta-feira, 12 de março de 2008

Beijo


sua boca
uva rubra
roça meus lábios
e por segundos
somos murmúrios húmidos
seiva cósmica
de línguas
púrpuras

por Virgínia Schall
fotografia de Walker

segunda-feira, 10 de março de 2008

Untitled


Fingertips brush
gently at first
a wave that rises
down to the palm
rolling softly back
stopping to circle
the center of that soft round
rising to meet its touch
before the palm slides down
and lifts gently
for the warm wet kisses
of a hungry mouth
licking and playing
nibbling and biting
sending its code
swimming heat
diving deeper.

by Carla Dodd
photography by Eve and Jean

sexta-feira, 7 de março de 2008

Eternamente sua


Serei eternamente sua pois,
só tu conheces meu cheiro,
meu gosto e meu corpo.
Tu podes me magoar,
me fazer calar e,
ainda assim serei eternamente sua.
Deixarei que beijes outras bocas,
que toques outros corpos,
que sintas o prazer de outros gemidos
e que conheças o íntimo de outros seres.
Deixarei.
Para ter a certeza de que
voltarás e que entenderás que
quando beijaste outra boca
– era a minha que tu querias,
que quando tocaste outro corpo
– era o meu que querias tocar,
que quando sentiste o prazer de outro gemido
– era o meu que querias sentir e, que,
finalmente, quando conheceste
o interior de outro ser
– era o meu interior que tu buscavas
em tuas infinitas procuras.
Deixarei-te livre, para teres a certeza
de que és meu e, assim voltar
com a certeza de que ficarás.
E então, depois de tantas buscas infindas suas,
revelarei-te que estava a sua espera,
assim como sempre estive.
E seremos eternamente nós.

por Tatiana V. Mattos
fotografia de Dominique Tomasso

quarta-feira, 5 de março de 2008

El inicio


Estás desnudo
y tu suavidad es inmensa
tiemblas en mis dedos
tu respiración vuela adentro de tu cuerpo

eres
como un pájaro en mis manos
vulnerable
como sólo el deseo podría hacerte vulnerable
ese dolor tan suave con el que nos tocamos
esa entrega en la que conocemos
el abandono de las víctimas

el placer como una fauce
nos lame nos devora
y nuestros ojos se apagan
se pierden

por Verónica Volkow
fotografia de Adrian

terça-feira, 4 de março de 2008

Ruby Tuesday


She would never say where she came from
Yesterday don't matter if it's gone
While the sun is bright
Or in the darkest night
No one knows
She comes and goes

Goodbye, Ruby Tuesday
Who could hang a name on you?
When you change with every new day
Still I'm gonna miss you...

Don't question why she needs to be so free
She'll tell you it's the only way to be
She just can't be chained
To a life where nothing's gained
And nothing's lost
At such a cost

There's no time to lose, I heard her say
Catch your dreams before they slip away
Dying all the time
Lose your dreams
And you will lose your mind.
Ain't life unkind?

Goodbye, Ruby Tuesday
Who could hang a name on you?
When you change with every new day
Still I'm gonna miss you...

by Mick Jagger & Keith Richards
photography of Stefano

segunda-feira, 3 de março de 2008

O beijo


Tua boca...
Sim... Tua boca...
O desejo tomou conta de mim
ao beijar tua boca.

Sim...
Os meus lábios ainda pressentem
o próximo toque dos teus.

Boca linda...
Lábios vermelhos...
Desejo trazer junto comigo
Sempre...
Esse sabor de mulher.

Encostei meus lábios nos teus,
As bocas se juntaram...
E se encontraram tão belas...
Tão ansiosas... tão ávidas...

Bebi ali todo o teu veneno...
Bebi ali todo o teu desejo...

Dali, tua pele, sensível ao toque,
se desvendou para minhas carícias...

Meus lábios tocaram a tua pele...
Lábios, peregrinos, visitaram seus refúgios...

Linda mulher...
Lindo desejo...
Deixei algo de mim no teu beijo
que não recupero jamais...

Entrei no teu quarto.

Sentada na cama de calcinha e camiseta,
cabelos soltos...
Beleza sem par...
A materialização da fêmea...
Linda como nunca... fêmea.
Tu falavas e eu...
embriagava-me de ti...
embebia-me de ti...
Prendia-me o olhar...
um ar de sedução...
Assim sob o abat-jour...
Beleza... fascínio… calor...

Soltei o pensamento...
— Te quero...
O desejo me integrou...
Recebi a tua mão no meu rosto
e a carícia me tocou por dentro.
Entreguei-me.
Deitaste sobre meu corpo...
Um beijo na minha boca...
Suave... mulher apaixonada...
Rendida à magia...
Te afastaste...
Um seio para fora,
colocado sobre meus lábios.
Lábios secos aveludados...
Percorrendo lentamente a auréola
Lábios macios...
Tocando a ponta dos mamilos.
Gemidos... murmúrios...
Arrepios...
Dentes sem força...
Ponta da língua...
Leve...

Corpo perfeito.
As minhas mãos percorrendo
a geografia da pele.
A topografia da carne.
A ponta dos dedos...
A palma das mãos,
em lenta progressão,
por caminhos indecifráveis.
Penugens...
dos braços...
das pernas...
das coxas...

Calor,
teu corpo esta quente.
Cheiro de fêmea...
fragrância...
Prazer.
Sabor.
Todos sentidos presentes
Delícias.

Deitei-me sobre ti.
Tuas coxas me tocam os flancos.
As bocas que se encontram,
línguas que se integram.
Sexos que se tocam,
águas que se misturam.
Braços que se enlaçam.
O beijo percorre teus dentes.
Meus dentes pressionam teus lábios.
Súbito um beijo de carinho
no meio do ardor.
Como para buscar a alma
neste mundo de presenças.

As mãos penetram nos cabelos,
sucessivos beijos nas faces,
nos olhos, nos lábios.
Confiança de ser minha.
Certeza de ser teu.
Palavras de carinho e amor.

Os lábios viajam pelo rosto,
enquanto pernas e braços se enlaçam.
Se acolhem, se apertam...
E então um beijo profundo
Um doce sabor...
Encontro de águas…
Sugo teu espírito para dentro de mim...
Entrego o meu para ti...
Os dois se integram num só
na junção dos plexos solares.
Não estamos mais ao nível da pele.

Tua boca exige minha boca.
Os ventres se movem em procura de encontro.
A pele se abre na mistura das carnes.
Músculos que se apertam.
Não existe mais
qualquer conceito de distância.

As línguas desejam lamber...
Os dentes desejam morder...
A boca deseja sugar...
O pescoço... Os ombros...
Os braços... O colo...
Mordendo e lambendo as axilas...
Abocanhando firme os teus seios.
Sugando pra dentro da boca
Extraindo deles o leite...
A língua, dentro, beijando.
Mordo, te machuco.
Você me arranha as costas...
Puxa os cabelos...
As pernas me apertam...
Diz que me quer...

Eu paro...
Beijos de carinho...
na ponta dos seios.
No colo, na boca.
Te quero... Te amo...

Retomo o fervor.
Alcanço teu sexo.
Te beijo com os meus lábios
os lábios da tua vulva.
A virilha... o ânus...
A língua... a saliva...
A ponta da língua...
A língua inteira...
Estremeces...
Imploras...

Encontro tua fonte...
e vou lá no fundo beber tua água...
muita água...
e trago pra dentro de mim...
saciando a sede de teu sabor.
Eu mordo... tudo.
A língua.
Chego no ponto certo.
A boca...
A língua...
Os dentes...
Tu gritas...

Inicias um frémito crescente...
Puxo teu corpo
para cima do meu.
Com os dedos afasto teus lábios
e entro em ti até o fundo.
Tu me engoles…
Me comes...
O ritmo cresce...

Um grito da alma...
No fundo... paramos.
As bocas se igualam...
Te encho de leite.
Lágrimas... soluços...
Abraço apertado...
Carinho...
— Te amo. Relaxas...
Adormeces em cima de mim.

por CAlex Fagundes
fotografia de Ludovic Goubet