segunda-feira, 30 de junho de 2008

Do teu cheiro


O gosto da tua pele
sal impregnado em meus lábios
que me mata de sede
à beira da fonte dos teus prazeres.

O teu gosto na minha boca
mel que sacia meus desejos
na hora derradeira
do medo de te perder
em meio aos lençóis.

O teu cheiro impregnado
no meu corpo
perfume raro que nem a chuva
leva de mim...

por Ademir António Bacca
fotografia de Angela Blank

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Menina e moça


Está naquela idade inquieta e duvidosa,
Que não é dia claro e é já o alvorecer;
Entreaberto botão, entrefechada rosa,
Um pouco de menina e um pouco de mulher.

Às vezes recatada, outras estouvadinha,
Casa no mesmo gesto a loucura e o pudor;
Tem cousas de criança e modos de mocinha,
Estuda o catecismo e lê versos de amor.

Outras vezes valsando, o seio lhe palpita,
De cansaço talvez, talvez de comoção.
Quando a boca vermelha os lábios abre e agita,
Não sei se pede um beijo ou faz uma oração.

Outras vezes beijando a boneca enfeitada,
Olha furtivamente o primo que sorri;
E se corre parece, à brisa enamorada,
Abrir as asas de um anjo e tranças de uma huri.

Quando a sala atravessa, é raro que não lance
Os olhos para o espelho; e raro que ao deitar
Não leia, um quarto de hora, as folhas de um romance
Em que a dama conjugue o eterno verbo amar.

Tem na alcova em que dorme, e descansa de dia,
A cama da boneca ao pé do toucador;
Quando sonha, repete, em santa companhia,
Os livros do colégio e o nome de um doutor.

Alegra-se em ouvindo os compassos da orquestra;
E quando entra num baile, é já dama do tom;
Compensa-lhe a modista os enfados da mestra;
Tem respeito a Geslin, mas adora a Dazon.

Dos cuidados da vida o mais tristonho e acerbo
Para ela é o estudo, excetuando-se talvez
A lição de sintaxe em que combina o verbo
To love, mas sorrindo ao professor de inglês.

Quantas vezes, porém, fitando o olhar no espaço,
Parece acompanhar uma etérea visão;
Quantas cruzando ao seio o delicado braço
Comprime as pulsações do inquieto coração!

Ah! se nesse momento, alucinado, fores
Cair-lhe aos pés, confiar-lhe uma esperança vã,
Hás-de vê-la zombar de teus tristes amores,
Rir da tua aventura e contá-la à mamã.

É que esta criatura, adorável, divina,
Nem se pode explicar, nem se pode entender:
Procura-se a mulher e encontra-se a menina,
Quer-se ver a menina e encontra-se a mulher!

Por Machado de Assis
fotografia de Pascal Abadie

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Não sei


Não sei o que verdadeiramente…
Em mim despertas.
Pecado não é…
Sentir-me assim…
Romper os tabus impostos…
Por alguém que nunca tal sentiu…
Essa paixão…esse calor…
Provocador.
Faz com que se ultrapasse os limites.
Numa entrega em que tudo fala.

Por Marta Vinhais
fotografia de Evgeniy Bokser

Este poema foi-me enviado pela autora. Veja o seu blogue Com Amor

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Prazer


prazer.
ardor.
arder.
atar.
foder.
fundir.
unir.
assar.
amassar.
doer.
morder.
libertar.
soltar:
a vida o espírito o corpo o tudo.
chorar.
sofrer.
desejar.
acreditar.
querer.
sonhar.
soltar:
o corpo o espírito a vida o tudo.
beijar,
beijar,
beijar:
um sorvete com caramelo, chocolate entremeado de beijar.
desaparecer aparecendo doce.
existir,
existir,
existir,
haverá afinal tanto pecado em apenas querer ser feliz?
tua pele,
no meu pêlo.
minha pele,
tocando a tua.
teus seios,
em meu singelo peito...
tua alma,
em meu pequeno coração...
minha boca,
em tua boca. louca.
minha alma. louca.
em tua alma. louca.
Será pecado ter este prazer de existir?
Se era pra ser assim,
Por quê antes não foi?
Por que não te encontrei enquanto navegando displicente na existência?
Precisava ser agora?
Quando tudo já parecia definido e travado...
Quando todo um destino já parecia ter sido selado?
Só não podia não ser, jamais.
A vida não teria tido sentido, nem alma.
A alma não teria tido uma vida, nem sentido.
A existência não teria tido vida, nem sentido, nem alma.

por Notívaga Noturna
fotografia de Oleg Kosirev

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Meus sonhos nus


Quero vencer todas as barreiras...
Ventos que sopram me desnudem
Lancem-me no profundo abismo
Que é o meu desejo infinito.

Sou fome de boca aberta
A mastigar os silêncios da noite
Despertando, aos gritos,
O meu corpo adormecido.

Tenho a alma em grande sede
Que mergulha no lago fundo
Do suor que me brota da pele
Em busca do divino prazer.

Ardo em fogo. Fecho os olhos...
As mãos são labaredas que dedilham
Harpas em catedrais de deuses,
Onde, nus, vagam os meus sonhos,

De uns braços atando-me como corda
A um corpo rijo como rocha,
E sua voz forte como a da águia
Grite, ao universo, a sua vitória,

Ao dominar sob a luminária
Que pende do tecto da alcova,
Esta loba que uiva na cova
Em explosões de muito amor...

por Maria Hilda de Jesus Alão
fotografia de SM

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Tua pele


É no sentir da tua pele,
que despertam os meus sentidos.
É no roce do meu corpo
contra o teu, que me arrepio.
É no teu sabor,
que te reconheço.

É na tua pele,
que sinto que estou viva.
É no tocar-te, no sentir-te,
em cada beijo, em cada gota,
em cada suspiro, em cada gemido...
que te sinto MEU!

É no sentir a tua pele em mim,
as tuas mãos pelo meu corpo,
quando me banhas em ti,
quando bebes de mim,
quando te suplico,
quando morro...
que me sinto TUA!

por Afrika
fotografia de Aleksandr Kolpakov

Este poema foi-me enviado pela autora. Veja o seu blogue
Afrika Bluesky

segunda-feira, 16 de junho de 2008

A sós no escuro

Hoje não vos ofereço um poema. Este post é mais íntimo, talvez um pouco cru, visceral. Há duas semanas atrás, Jade colocou no seu blogue o texto A Sós (Ela), e pediu-me que lhe descrevesse como faria um homem. Apreciei o seu pedido, mas acabei por não ter muito tempo disponível. Entretanto Jade publicou o seu A Sós (Ele). Adorei a história, excitou-me a possibilidade de ser observado. É incrível como as palavras despertam a nossa imaginação, como construimos uma imagem do outro, que só conhecemos através dessas mesmas palavras. Assim, ontem à noite escrevi este texto que aqui vos deixo, e que espero que te agrade Jade.



No escuro
Imagino-te deitada, nua,
Aqui na minha cama, a meu lado.

Enquanto me toco,
Enquanto seguro meu sexo entre minhas duas mãos,
Enquanto me acaricio,
Num vaivém contínuo e lento.

Aos poucos vai ficando duro,
Pulsante e quente.
Cubro-o de saliva, massajo-o.
Gemo num sussurro.
mmm...

Estremeço.
No luar que invade o quarto
Pressinto a tua presença.
Sinto, mais do que ouço, a tua respiração.

Sei que estás aí.
Excita-me saber que me observas.
Que és cúmplice do meu prazer.
Entre minhas mãos
Meu falo responde palpitante.

Acelero os movimentos,
Arqueando um pouco as ancas.
Ahh!!! Como está grande!
Quero que o vejas,
Assim, erecto, possante!

Está húmido.
Uma gota transparente escorre da glande.
Está brilhante.
Imagino teus lábios formando um O,
Envolvendo meu pau, subindo e descendo.

Toco-o devagar.
Como se fosses tu.
Imagino a carícia de tua língua.
Lambendo-o,
Provocando-me.

Um arrepio de prazer invade-me.
Páro e aperto-o entre as minhas mãos.
Está já todo molhado, viscoso,
Como se me viesse aos poucos,
Num contínuo prazer.

Pressinto a tua respiração,
Tão ofegante como a minha.
Imagino onde terás teus dedos.
Fecho os olhos.
Gemo alto!

Não aguento mais.
Sinto teus olhos cravados nas minhas mãos,
No meu sexo.
Com as duas mãos inicio um movimento rápido,
Imparável, quase violento!

Para cima e para baixo!
Mais depressa!
Sinto como vibra, como pulsa!
Gemo, grito!
Dois, três jactos brancos escapam-se entre meus dedos entrelaçados.
Duas, três vezes sinto os espasmos que os acompanham.
Duas, três vezes sinto o teu olhar de espanto, de desejo!

Pedro M.
Fotografia de Anthony Boccaccio

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Se miran


Se miran, se presienten, se desean,
se acarician, se besan, se desnudan,
se respiran, se acuestan, se olfatean,
se penetran, se chupan, se demudan,
se adormecen, se despiertan, se iluminan,
se codician, se palpan, se fascinan,
se mastican, se gustan, se babean,
se confunden, se acoplan, se disgregan,
se aletargan, fallecen, se reintegran,
se distienden, se enarcan, se menean,
se retuercen, se estiran, se caldean,
se estrangulan, se aprietan se estremecen,
se tantean, se juntan, desfallecen,
se repelen, se enervan, se apetecen,
se acometen, se enlazan, se entrechocan,
se agazapan, se apresan, se dislocan,
se perforan, se incrustan, se acribillan,
se remachan, se injertan, se atornillan,
se desmayan, reviven, resplandecen,
se contemplan, se inflaman, se enloquecen,
se derriten, se sueldan, se calcinan,
se desgarran, se muerden, se asesinan,
resucitan, se buscan, se refriegan,
se rehuyen, se evaden, y se entregan.

Por Oliverio Girondo
fotografia de Oleg Kosirev

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Fêmea


Formas curvas
Carne quente
Sedutora
Misteriosa mulher

Aconchegante
encontra cara a cara
o menino homem
Indefeso
Embriagado
Subjugado
pelos múltiplos lábios
da volúpia

Por Regina Bello
fotografia de Frank Bodenschatz

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Gosto


Gosto...
de te sentir no silêncio...
Escondo as palavras
no meu corpo...
Provocador... sedutor...
Inteiramente apaixonado...
E nos meus olhos lê o que
a alma tem para te revelar...
Não digas alto o que sabes...
Apenas mo faz viver....

Por Marta Vinhais
fotografia de Denis Saint Clair

Este poema foi-me enviado pela autora. Veja o seu blogue Com Amor

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Somente tua


Hoje, sou eu que te procuro...
Hoje, somente hoje, sou eu que preciso,
Sentir-te,
Sentir-te aqui junto a mim, em meu leito...
Tenho sede de ti
Faz-me desejar-te
Querer-te
Venerar-te...
Vem ao meu encontro
Consome-me e mata minha fome,
Sem questões de porquês,
Sem respostas com justificação.
Procuro-te
Preciso do teu colo,
Em jeito de menina,
Em prol do prazer de mulher.
Quero-te
Exijo de ti o que não procuras em mim.
Dá-me apenas, emoção...
Sem palavras!
Procuro gestos
Atitudes,
Apenas o som do teu corpo no meu...
Latejante, suado, cansado...
Hoje, sou eu que te procuro!

Por Attitude
fotografia de Demidov Sergey (Bezheviy)

Este poema foi-me enviado pela autora. Veja o seu blogue i love my attitude problem

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Tu


Ah, se tu estivesse aqui neste momento...
Deixaria teus braços enlaçarem meu corpo,
tua boca vir de encontro à minha,
teus olhos me guiarem.

Seria tua da maneira que quisesses,
da maneira que desejasses.

Porque só tu és capaz de fazer sonhar,
tua imagem me enfeitiça.
Sou capaz de ceder a todas as suas
vontades sem questioná-las,
porque perto de ti
não sou dona de mim,
sou simplesmente tua.

Por Tatiana V. Mattos
fotografia de Stanislav Blazhenkov