quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Ode às noites íntimas


As palavras nada proíbem. Quem proíbe,
pouco entende o brilho húmido dos lábios
que se entreabrem, e do pénis as grossas
túmidas veias e a ansiosa glande;
ou ainda, se percebe, os desentende:
quantas meninas houver desflorado, tanta
a sanha de calar o que todos fazem
em cada volta que a Terra dá e nas que deu
e nos biliões que dará, ocultando sob
os telhados e sob as árvores o lutar
de corpos que leva voando no espaço.
De que ter pudor, se dois humanos ensaiam
longamente na boca e pele que se morde
e nos pêlos afagados que se orvalham
a rigidez e a penetração do membro?
A vida também é as mãos apalparem
indagando os seios, o clitóris rodarem
como aos mamilos, para que as femininas
mãos apertem o membro e o masturbem.
Nada, pois, impede de cantar-se a luxúria,
os pêlos, a tesa pele, o confundir vultos,
o segredo de cada vez descoberto ou
inventado, a língua, as mãos, os dedos
exactos e o mais penetrando tudo que
o corpo abra, e a garganta grite, e os
dentes exijam, e as coxas apertem e
logo se abram, e pernas e calcanhares
prendam, e as unhas cravem, e o ventre
salte no movimento tão antigo das
marés vivas – materna origem –, e a
vulva acompanhe em calculadas contracções
o falo que mergulha e sai, e assim tenha
o saber herdado dos moluscos do mar.
Pudor de escrever o penetrar de corpos
cada dia tão diverso quanto são os dias?
O membro usa o comprimento e a dureza
com a lucidez e o gozo de senti-lo
nos lábios que o recebem no desespero
de resistirem e a sede de o abraçarem
e medirem, suor de sal, distantes ondas,
olhos brancos loucos de lua, quando
do telúrico vulcão ao longe os gemidos
vêm subindo, no ritmo dos quadris
que aceleram e da respiração que arfa,
e as palavras ditas na noite, segredadas,
de quem sábio alteroso se navega
e indica o norte para que nada se perca,
já a lava começa a premente subida
da medula do corpo à ponta do ventre,
e os gemidos crescem e se apressam,
misturados às palavras, ainda guiando
e logo perdidas, obscenas em gritos
e rugidos, que limitam a noite à cama,
explodidas nos saltos do membro que o
esperma ejectam e a carne profunda,
apertando, ávida, sorve e chama na
perdição que não é subir a astros, mas
esvair-se em vida p'ra semear o mundo.

Logo lentos os corpos esfriam e dormem.
Para depois haver a manhã e da vida
o labor salvar-se nas noites que virão.

por Manuel Rodrigues
fotografia de Garm

8 comentários:

Anónimo disse...

É isso... 'as palavras (a) nada proíbem...'


Um beijo. ;))

Pedro M disse...

mmm minha querida Attitude...

as palavras nada proíbem, e o desejo a isso nos convida!

Um beijo

segredo disse...

e k o desejo exploda e faça sentir o tao desejado prazer k nos pode levar bem longe...
Beijos de lua
*.*

Pedro M disse...

mmm minha querida Lua...

vem comigo nessa explosão de sentidos, paixão, desejo, prazer...

Um beijo

Marta Vinhais disse...

As noites em que a paixão fala...
Sem palavras, porque nada a descreve como o abraço dos corpos....
Boa escolha...
Beijos e abraços
Marta

Pedro M disse...

mmm minha querida Marta...

a paixão que nos conduz ao desejo sem pudor, às mãos que buscam, que tocam, que afagam, que masturbam...
a paixão que nos conduz ao desejo do corpo um do outro, de o possuir, de o penetrar, fundo, bem fundo, num grito rouco de prazer.

Um beijo

Inês disse...

Esta foto deixa-me louca,já sem falar das palavras...

Bom demais...

Beijos maléficos...

Pedro M disse...

mmm menina que se fez mulher...
a loucura envolve-nos, nos sentidos, nas palavras, na pele...

Um beijo