sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Som de mulher


Os olhos são o espelho da alma.
E se isso, verdade é,
deixe-os serem a janela,
e veja por um instante
minha alma de mulher.

Vê a borboleta
que em doces volteios
acaricia suave, seus cabelos?

São meus dedos.

Feche os olhos e sinta.
Ao som suave da brisa,
minhas carícias que
vão lhe envolvendo.

Sinta o toque na pele,
que traçando seu rosto
vai descendo mansinho
em direcção ao seu peito.

São meus beijos.

Sente o roçar pela cintura,
como asas de libélula voejando?
É minha língua.
Vou adentrando.

Das vestes, já liberto,
sinta o tempo de Agosto
que vai molhando seu corpo.

Estou provando seu gosto.

Segure de leve, pressionando,
minhas ancas
transformadas em rédeas,
enquanto vou cavalgando.

Fica assim...
Parado a sentir
o veludo húmido lhe envolvendo.

Você está dentro de mim.

Rápido...
Vem comigo!
Vamos chegar ao fim...

Agora abra lentamente seus olhos.
Sinta a vida transformada
em seiva que de seu corpo flui.

Não me procure.
Como a tarde dessa primavera

Eu já fui...

por Asta Vonzodas
fotografia de Luc Selen

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Menina, mulher amante


Menina, mulher amante,
com seus olhos brilhantes,
quero ter você por um instante,
e beber teu prazer constante...

Beijar o teu corpo gostoso,
lamber seu pescoço,
e ser grudento aos poucos...

Se te quero tanto assim,
nesta ilusão tão ruim,
é porque para mim,
és um castigo sem fim...

Na minha serra querida,
tu és a minha guia,
te quero nua de dia,
nem que seja por fantasia...

por Adolfo Capella
fotografia de autor desconhecido

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

A bailarina vermelha


Ela passa,
a papoila rubra,
esvoaçando graça,
a sorrir...
Original tentação
de estranho sabor:
a sua boca - romã luzente,
a refulgir!...

As mãos pálidas, esguias,
dolorosas soluçando,
vão recortando
em ritmos de beleza
gestos de ave endoidecida...
Preces, blasfémias,
cálidas estesias
passam delirando!...

Mordendo-lhe o seio
túrgido e perfurante,
delira a flama sangrenta
dos rubis...
E a cinta verga, flexuosa,
na luxuria dominante
dos quadris...

Um jeito mais quebrado no andar...

Um pouco mais de sombra no olhar
bistrado de lilás...

E ela passa
entornando dor,
a agonizar beleza!...
Um sonho de volúpia
que logo se desfaz,
em ruivas gargalhadas
dispersas... desgrenhadas!...

Magoam-se os meus sentidos
num cálido rubor...

E nos seus braços endoidecem
as anilhas d'oiro refulgindo
num feérico clamor!...

E ela passa...

Fulva, esguia, incoerente...
Flor de vicio
esvoaçando graça
na noite tempestuosa
do meu olhar!...
Como uma brasa ardente,
e infernal e dolorosa,
... a bailar...

a bailar!...

Por Judith Teixeira
fotografia de Oleg Kosirev

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

As nádegas


Porque das nádegas
a curva
sempre oferece
a fenda
o rio
o fundo do buraco

Para esconso uso do corpo
nunca o fraco
poder do corpo em torno desse vaso

Ambíguo modo
de ser usado
e visto

De todo o corpo
aquele
menos dado

preso que está já
do próprio vício
e mais não é que o limiar de um acto

Por Maria Teresa Horta
fotografia de Angela Blank

sábado, 2 de agosto de 2008

A sós no escuro II

Há algum tempo atrás publiquei o post A sós no escuro inspirado por Jade no seu post A Sós (Ele). Hoje recebi um comentário a esse meu post, que me foi enviado por uma leitora anónima. Senti-me lisonjeado e não resisti a publicá-lo aqui. Espero que seja do vosso agrado, tal como foi do meu.


No teu, ou no meu quarto,
É no nosso espaço...
olho-te... vejo teus gestos entre a luz que brilha do luar.
Teus dedos grandes apertam teu sexo, e meu olhos sonham em lhe tocar...
mexes, continuas a mexer e eu a olhar!
Inunda-me de desejo...
Sinto enorme vontade de me aproximar.
Ligeiramente aproximo-me quando tu, de olhos fechados soltas um grito...
Sinto-te ofegante... sinto o calor do teu corpo já perto de mim.
Com as minhas mãos interrompo os teus gestos substituindo-as pelas minhas mãos.
Aperto teu sexo entre as minhas mãos e tu, de olhos fechados sentes-me substituir-te.
Com a minha língua percorro-o, lambendo-o como quem lambe um gelado numa noite de Verão...
Duro, teso, sinto-o vibrar...
Acaricio-o com a minha boca...
E com os meus lábios percorro-o num vai e vem sem parar, entre gemidos quentes.
Sinto-te vir, sinto-te perder o controlo e de repente soltas em ti um grito e jaz...
Os nossos olhos cruzaram-se de desejo por mais e muito mais... até que o cansaço nos envolveu.

Escrito por uma leitora anónima
fotografia de Anthony Boccaccio