quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Face do desejo


Lume.
A dança da chama,
bailarina esguia.

Pele.
Aceso toque da noite
leve invisível.

Antepercebe-se
a flauta do fauno
invadindo a sala.

A boca percorre
palavras de veludo
sorvidas aos tragos.

Sabe-se nada...
a alma é tomada
e tudo é momento.

Agora.
a noite é hora
neste aposento.

Toca o pêlo
entumescimento
das pontas.

Lambe a aura
da divindade
vaga.

Penumbra.
Chama do fogo,
lenho de carne.

Inebriam-se os lábios.
Frêmito.
Espírito absorvente da noite.

Cabelos
dedos em novelos
nebulosas e redondilhas.

Ilhas.
Crespos.
Águas.

Deitam-se a verter
ao sabor do nascituro,
eremita de fogo.

Gomo de fibras.
Lábio sorve a sede

da água que verte.

Um vaso aberto,
gardênia em chamas,
carmesim do fogo.

Ponto de fêmea.
Ambiente.
Atmosfera.

Hálito.
Perfume.
Máscara.

Sangue
em pele
marfim.

Cambraias
abertas
em pernas de mulher.

Heliocêntricos
raios olhos
fixos no nada.

Músculos tesos.
Húmida.
Tépida.

Abre-se a porta.
Rude o peregrino
chega e faz morada.

Língua molhada
ao encontro
de alvéolos e esponjas.

Água salgada
maresia de fêmea
Sede de nervos

e músculos
a forçar
entranhas.

Brumas
sanguíneas,
cama de ferro.

Fêmea de
pernas
escancaradas.

Cortina de gaze.
Vento marítimo.
Odor de dentro.

Envolvente
o prazer
da mulher deitada.

Faz de mim o tempo.
O simples pulsar
dentro de ti.

Anjo, te faço fêmea.
Mulher, te faço anjo.
Faço-te gozo.

O gozo de meu sangue
é o leite
que te serve.

Na águas de tua
fonte afogas
a minha sede.

A língua percorre
um fio na topografia
de montes e vales.

A fêmea é terra
latente na eterna
espera da semente.

Penumbra do quarto
olhos da noite.
Como me achas?

Como me vês?
Como sabes trazer-me
pra dentro de ti?

O vinho.
A noite.
O silêncio.

Nada além das janelas
Nem mesmo horizontes existem
num quarto de casal.

Deposito em ti a minha
Eternidade.
Sou teu amante.

E deito em ti
minhas surpresas em forma
de farsas adocicadas.

Quando dormes e acordo
com teus gemidos persigo
teu gozo com meu pensamento .

Vejo-te outra,
longe de mim,
a se espargir no éter.

Teu corpo é belo
tua mente, insana
quando deitas na cama

e te cobres de pétalas.
A alma da mulher
se esconde num beijo.

Por CAlex Fagundes
Fotografia de Lady O

11 comentários:

Marta Vinhais disse...

Há sempre surpresas escondidas...
Nesse beijo...no próprio corpo que se abre para ti...
Com alma...
Imagem interessante e poema forte e sensual.
Beijos e abraços
Marta

Anónimo disse...

Bonito poema. Perfeita alusão a uma noite de prazer.
mmm "...e músculos a forçar entranhas..." tanto deixa por dizer.
Um beijo quente Pedro M.

Carla disse...

apenas...PRAZER!
que bom!
beijos

Anónimo disse...

Esta imagem tem qualquer coisa.. e hoje este poderia ser um qualquer cenário de um dos parques daqui.. Sopra uma brisa de Outono, já cheira a inverno, sem cheirar a chuva.. fantástico Parabens!

Jade disse...

A surpresa da descoberta em que ... "sabes trazer-me pra dentro de ti"
:)

Um beijo

Ly disse...

Um sussurro...

Pedro M disse...

mmm Marta... surpresas que nos agarram, nos seduzem e dão prazer :-)

Um beijo

Pedro M disse...

mmm minha querida Anónima... sinto teu beijo como "água salgada
maresia de fêmea" que delicia meus sentidos :-)

Um beijo

Pedro M disse...

Ohhh Carla... Sim!!! Prazer puro e simples! O contacto dos corpos... o perfume da pele... a humidade do sexo... o calor do orgasmo...

Um beijo

Pedro M disse...

mmm Jade... sim.. devagarinho... sentindo... bem fundo...

Um beijo

Pedro M disse...

mmm Ly... deixa-me escutar teu sussurro... assim, bem perto de mim...

Um beijo