sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Boas Festas


Para todas as minhas leitoras, com os meus desejos de Boas Festas!!

Um beijo
Pedro M.



fotografia de autor desconhecido

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Especialmente para ti Anónima


Há já bastante tempo, uma leitora anónima deixou ficar um pequeno texto erótico como comentário a um dos meus posts. É um texto muito bem escrito, cheio de pormenores excitantes. Como muitas leitoras não visitam a caixa de comentários, decidi dar-lhe o destaque merecido.
Hoje publico a minha resposta a esse comentário (também ela publicada anteriormente na forma de comentário).



Uma corrente de ar abana o cortinado e por uma fracção de segundo a luz ilumina o meu sexo duro, inchado e palpitante que as minhas mãos afagam.
Leio a surpresa em teus olhos, que logo fechas, abrindo ainda mais as tuas pernas para que eu possa ver como escorres, num convite gemido. Em silêncio, levanto-me, caminho para ti e ajoelho-me. Afasto teus dedos e com a língua sacio minha sede de ti.
Ohh… o teu cheiro embriaga-me, o teu sabor enfeitiça-me. Acaricio teus seios, teus mamilos túrgidos. Lentamente percorro teu corpo com minhas mãos enquanto com a língua te faço gemer. Finalmente abraço tuas nádegas e puxo-te contra mim. Gritas de prazer, agarras-me o cabelo e pedes-me que não pare, pedes-me que te chupe, queres sentir a minha língua bem fundo.
Empurras-me! Tomas o meu sexo em tuas mãos e tua boca procura a minha com uma violência que te não conhecia. Percorres meu corpo com teus lábios. Mordes-me! Fazes-me gritar ao prenderes os meus mamilos entre os teus dentes. Desces… Olhas-me nos olhos, sorris com sorriso de menina traquina quando o metes na boca, saboreando-o, como se fosse um gelado. Fecho os olhos e gemo. O prazer é tanto que tenho de me conter para não me vir.
Mas quero mais! Quero ter-te! Quero possuir-te por inteiro! Quero entrar em ti! Quero foder-te e fazer-te vir! Rolamos no chão, ergues as pernas e prendes-me pelas ancas fazendo com que entre em ti bem fundo.
Arranhas-me! Pedes que to meta todo! Queres sentir-te totalmente preenchida! Queres senti-lo bem no fundo! Gemo! Estás toda molhada! Escorres! Prendo-te as nádegas com as mãos! Teu cuzinho de tão molhado abre-se aos meus dedos! Ohhh!!! Sinto-te quente, palpitante!
Ahhh! Pedes que não pare! Pedes que te foda! E eu fodo-te… e tu fodes... como ninguém fodeu comigo!!!

Pedro M
fotografia de Garm

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Especialmente para ti Pedro M


Há já bastante tempo, uma leitora anónima deixou ficar um pequeno texto erótico como comentário a um dos meus posts. É um texto muito bem escrito, cheio de pormenores excitantes. Como muitas leitoras não visitam a caixa de comentários, decidi dar-lhe o destaque merecido. Espero que o apreciem, tanto como o eu apreciei.
Num próximo post, publicarei a minha resposta a este comentário.



No final do dia ao entrar em casa, pouso a pasta, descalço-me e tiro a minha saia.
Entro na sala escurecida pelas janelas fechadas. Sento-me na minha cadeira vermelha a relaxar. Desabotoo a camisa branca e alço a perna direita sobre o braço da cadeira.
Trago aquela lingerie preta que me realça o peito, que tu tanto gostas.
Com os botões abertos olho para o vale que forma e não resisto. Com a mão direita percorro o vale acariciando cada montanha... hum! Do vale ao cume... por toda a montanha... por toda a paisagem.
Não contente com as minhas carícias, com a outra mão, começo a acariciar as minhas coxas e o meu sexo, já húmido.
Entre abrir e fechar olhos, entre mordidelas dos meus lábios, delicio-me ali, sozinha, no escuro, de pernas abertas na minha cadeira vermelha.
Sinto o meu coração a bater, a chamar cada vez mais forte, com mais ritmo, a minha respiração ofegante, cada vez mais descontrolada e eu esfrego-me, e eu sinto cada pedaço da minha pele, cada pedaço de mim! Eu dou-me a conhecer, o meu cheiro, o meu corpo.
De repente... um flash de luz zarpa! Abro os olhos e vejo a tua sombra, ali sentado quase à minha frente... nu... acariciando o teu sexo já duro e hirto, olhando-me. Não te tinha visto antes!
Como tu te excitas ao ver-me tocar-me! O teu rosto de prazer... de desejo desenfreado, mas gélido.
Tu, ali, no escuro, masturbavas-te... e sem eu te ver.
Fecho os olhos novamente, não me monstrando incomodada com a situação e continuo, avanço a um ritmo mais acelerado, gemendo, gritando, até que... Sinto-te! De olhos fechados sinto a minha mão ser substituída pela tua língua que me invade as entranhas e me faz delirar. Que me percorre os caminhos dos meus lábios e me sacia o desejo... em paralelo as tuas mãos acariciam o meu peito. Sinto os teus dedos, cada pedaço da tua pele em minha pele, milímetro por milímetro, sinto-te.
Quero mais e mais e tu dás-me mais e mais e não paras e eu não páro e grito e gemo e agarro-te a cabeça e não sei o que te faço. Desespero de desejo! De prazer de vontade de te ter.
Solto-me da cadeira agarro teu sexo! Ai como o agarro, ai como o quero.
Unimos nossos corpos pelas nossas línguas... continuas percorrendo meu sexo sugando-me, e eu, saboreio-te. Sinto cada pedaço do teu sexo. Está como eu gosto, duro, húmido, meu. Sentes a minha língua e retrais-te!
Ai, como me deixas louca de tesão!
Enrolamos nossos corpos, entras em mim ou eu em ti... é tao forte a união dos nossos corpos que já não te sei dizer!
Amas-me ali, naquele momento como se eu fosse única. Amo-te como se fosses meu. Como se o tempo parasse e o mundo fosse ali, agora, sem amanhã. Renasço!
Fodes-me como nunca ninguém me fodeu!

dedicado por uma leitora anónima
fotografia de Garm

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Imoralidade


Seus dedos esgueiram-se entre
Minhas pernas, e lentamente acariciam-me.
Penetram no meu mais profundo desejo.
No aperto do banco do carro,
Tão próximo aos olhares alheios
É perigoso, proibido,
Mas não há nada que nos faça parar.

Sussurre, respire,
Deixe-me ver sua expressão de prazer
Enquanto sente meu corpo mover-se
Para cima e para baixo, num ritmo frenético.
Desvende a maciez da minha pele,
Percorra com sua língua, perca o controle
E renda-se de uma vez a esta lascívia que
Deslumbra-nos.

por Gabriela Pimenta
fotografia de autor desconhecido

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Quero


do uísque, o malte;
do despacho, a encruzilhada
não quero a boca sequer o beijo,
mas sim o estalo,
o estampido seco
quero o talo em terra parada
quero a fonte e a meada

não quero o olho ou o olhar
mas sim seu brilho,
a cintilar, e em meu revés
o ouvido que roça
não quero jazz
só quero bossa

nada de colo ou encalço,
quero o espaço,
que há em teu regaço
e do teu corpo,
que me arromba a pupila
quero o mais profundo
o mais rotundo

quero-te o cheiro
encher-te em veio
com parte minha
que é todo eu
e ali dentro estar
sempre a pulsar
em apogeu...

por André Mascarenhas
fotografia de autor desconhecido

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Teu corpo solto


Abandonado ao êxtase de estar
Tuas curvas
Tortuosas
Delirantes
São varridas pelo tecido
Que te envolve a pele
Que desliza em cantiga
Acalanto
Tua carne desnuda
Túrgida
Alva
Trêmula
Palpitar de fruta fresca
Teus olhos; iluminam o quarto
Tua boca tece o silêncio
Teus ouvidos segredam notas
Teus seios macios
Salientes
Calientes
Doces
Que minhas mãos envolvem
A descobrirem
Os róseos medalhões
Que tocam o céu
O céu de minha boca
Faminta
Sedenta
Tuas pernas
Colunas
Arco de flores
Roliças
Se abrem
Feito portais de mistérios
Intemporais
Leutos
Descerram
Imbecilizado vislumbro
Tua corbelha de flores
Flor de lótus
Pérola oculta
Tua Rosa que desabrocha
Tua flor que aflora
Beijo teus vermelhos lábios
Longamente
Vasculho essa mística boca
Entre doces pétalas
Dela
Extraio o néctar
Polinizo assim minha garganta
Mas o desejo
De cobri-la
De conquistá-la
Feito guerreiro
Só e derradeiro...
Numa fusão de corpos
de suor
de carne
de calor
Meu velo de couro
Devagar
Invade tua rubra taça
Tange
dilacera
deflora tua flor que aflora
Possui tuas entranhas
latente pulsa
Impulsa
Entre sussurros desconexos
E imagens a fins
Derramo o leite dos Deuses
E transbordo
Teu cálice de Amor.

por Lui Bucallon
fotografia de Ruslan Lobanov

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Canção erótica

Alegria é este pássaro que voa
da minha boca à tua. É esse beijo.
É ter-te nos meus braços toda nua.
Sentir-me vivo. E morto de desejo.

Alegria é este orgasmo. Esta loucura
de estar dentro de ti. E assim ficar.
Como se andasse perdido e à procura
de possuir-te.

E possuir-te devagar...

por Joaquim Pessoa
fotografia de autor desconhecido

quinta-feira, 14 de julho de 2016

A empreza nocturna (excertos)


Tal fogo em mim senti, que de improviso
Sem nada lhe dizer me fui despindo
Te ficar nu em pelo, e o membro feito
[...]
Nise cheia de susto e casto pejo
Junto a mim sentou-se sem resolver-se
Eu mesmo a fui despindo, e fui tirando
Quanto cobria seu airoso corpo
Era feito de neve: os ombros altos
O colo branco, o cu roliço e branco
A barriga espaçosa, o cono estreito
O pentelho mui denso, escuro e liso
Coxas piramidais, pernas roliças
O pé pequeno... oh céus! Como és formosa

por Manuel Maria Barbosa du Bocage
fotografia de autor desconhecido

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Liquefação

Sou líquida, abundante
entre as pernas
e as retinas

esgueiro-me nas esquinas
dos desejos
fugidios

cozinho em banho-maria
meus cios
e tormentas

espalho meus gozos
em rosas
e em espinhos

líquida, embebida
e regurgitada

(saciada e exaurida...
entre o formicida e a espada)

por Cefas Carvalho
fotografia de autor desconhecido

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Não estás a meu lado


Virilha contra virilha
reconstruo o meu corpo
colado ao teu. Choro.
Não estás a meu lado.
Virilha contra nádega
asas de salvação efémera
reconstruo o teu corpo
junto ao meu. Choro.
Sem os meus braços
envolvendo-te a cintura,
sem as tuas pernas no meu pescoço,
sem a tua mão moldando-se
ao meu ventre
choro: não estás a meu lado.
Sem a tua boca
no meu peito, a tua língua
no meu sexo, os teus seios
soltos, desenfreados
choro: não estás a meu lado.
Sem as tuas fendas
e lagos sou um pobre animal
desamparado, e choro
sobre o teu ninho nos lençóis
em que não posso derramar
o olhar o sémen as palavras
de quando estás a meu lado.

por Casimiro de Brito
fotografia de autor desconhecido

terça-feira, 7 de junho de 2016

Glosa a Providência

Santos pecados...
cometidos
(ou sufocados?!)
às mãos de Manuela!

Terá Satanás previsto,
a audácia,
o tamanho risco
de confiar em mãos alheias
tal capacidade de tocar...?!

de uma leitora anónima
fotografia de Mikhail Nekrasov

terça-feira, 24 de maio de 2016

Providência

Quando me perco no aperto
do recinto dos amores ateus,
logo sinto as mãos de Deus
pelas mãos de Manuela.

Quando me salvo no cenário
do santuário dos amores em paz,
tocam-me as mãos de Satanás
pelas mãos de Manuela.

por Saulo Pessato
fotografia de autor desconhecido

sexta-feira, 18 de março de 2016

Baptismo


Para atrasar a morte vamos abrir a noite
com música de jazz
Percorrê-la depois
num barco de borracha
Celebrar o segredo...
Enforcar a memória
Descobrir de repente
uma ilha que nasce dentro do teu vestido
Chamar-lhe Madrugada
Adormecer contigo

por David Mourão-Ferreira
fotografia de Ruslan Lobanov
(sugestão de uma leitora anónima)

terça-feira, 1 de março de 2016

Malva-maçã (trechos)


De teus seios tão mimosos
quem gozasse o talismã!
Quem ali deitasse a fronte
cheia de amoroso afã!
E quem nele respirasse
a tua malva-maçã!

Dá-me essa folha cheirosa
que treine no seio teu!
Dá-me a folha... hei de beijá-la
sedenta no lábio meu!
Não vês que o calor do seio
tua malva emurcheceu...

A pobrezinha em teu colo
tantos amores gozou,
viveu em tanto perfume
que de enlevos expirou!
Quem pudesse no teu seio
morrer como ela murchou!

Teu cabelo me inebria,
teu ardente olhar seduz;
a flor dos teus olhos negros
de tua alma raia à luz,
e sinto nos lábios teus
fogo do céu que transluz!

O teu seio que estremece
enlaguece-me de gozo.
Há um quê de tão suave
no colo voluptuoso,
que num trêmulo delíquio
faz-me sonhar venturoso!

Descansar nesses teus braços
fora angélica ventura:
fora morrer nos teus lábios
aspirar tua alma pura!
Fora ser Deus dar te um beijo
na divina formosura!

Mas o que eu peço, donzela,
meus amores, não é tanto!
Basta-me afolha do seio
para que eu viva no encanto,
e em noites enamoradas
eu verta amoroso pranto!

Oh! virgem dos meus amores,
dá-me essa folha singela!
Quero sentir teu perfume
nos doces aromas dela...
E nessa malva-maçã
sonhar teu seio, donzela!

Uma folha assim perdida
de um seio virgem no afã
acorda ignotas doçuras
com divino talismã!
Dá-me do seio esta folha
– a tua malva-maçã!

Quero apertá-la a meu peito
e beijá-la com ternura...
Dormir com ela nos lábios
desse aroma na frescura...
Beijando-a sonhar contigo
e desmaiar de ventura!

A folha que tens no seio
de joelhos pedirei...
Se posso viver sem ela
não o creio!... Oh, eu não sei!...
Dá-ma pelo amor de Deus,
que sem ela morrerei.

Pelas estrelas da noite,
pelas brisas da manhã,
por teus amores mais puros,
pelo amor de tua irmã,
dá-me essa folha cheirosa
– a tua malva-maçã!

por Álvares de Azevedo
fotografia de autor desconhecido

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Os silêncios da fala

São tantos
os silêncios da fala

De sede
De saliva
De suor

Silêncios de silex
no corpo do silêncio
Silêncios de vento
de mar
e de torpor

De amor

Depois, há as jarras
com rosas de silêncio

Os gemidos
nas camas

As ancas

O sabor

O silêncio que posto
em cima do silêncio
usurpa do silêncio o seu magro labor.

por Maria Teresa Horta
fotografia de autor desconhecido
(sugestão de uma leitora anónima)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Arlequim


No carnaval,
minha colombina
é a menina
que pula, dança,
canta marchinha
em sua cama
usando pijama
de bolinha.

por Saulo Pessato
fotografia de autor desconhecido

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Nas ervas


Escalar-te lábio a lábio,
percorrer-te: eis a cintura
o lume breve entre as nádegas...
e o ventre, o peito, o dorso
descer aos flancos, enterrar

os olhos na pedra fresca
dos teus olhos,
entregar-me poro a poro
ao furor da tua boca,
esquecer a mão errante
na festa ou na fresta

aberta à doce penetração
das águas duras,
respirar como quem tropeça
no escuro, gritar
às portas da alegria,
da solidão.

porque é terrivel
subir assim às hastes da loucura,
do fogo descer à neve.

abandonar-me agora
nas ervas ao orvalho -
a glande leve.

por Eugénio de Andrade
fotografia de Garm

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Amoreto V


Quiero ver en tus ojos el destello,
la inquietud de mi fibra, el rocío
en tus manos asidas a mi río,
el recodo en que habita lo más bello.

Quiero ser en la sangre de tu sello
hoja hueva en el vaso antes vacío,
ser, amor, tu sabor en el estío,
la delicia en el pulso de tu cuello.

Quiero andar tu sudor y tu saliva,
atreverme a probar el agua viva
que en tu beso refleja la dulzura

del estanque aromado y su tersura;
agua rauda y ardiente que cautiva
brillo de agua que colma mi hendidura.

por Ethel Krauze
fotografia de autor desconhecido

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Frémito do meu corpo...

Frémito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doido anseio dos meus braços a abraçar-te,

Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!

E vejo-te tão longe! Sinto a tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que me não amas ...

E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas...

por Florbela Espanca
fotografia de Artemis

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Fantasía



Desnuda, débil, ansiosa
arrimo el cuerpo al bosquejo
de tu imagen.

Con la fantasía diluida en la piel
contemplas silencioso la cercanía
el calor sudado que expelen mis poros.

Lento, abro mi boca, un volcán consume
seca esta ansiedad y suplico más.

Más de esta angustia derrochadora,
más de este puñado apocalíptico
más de este misterio.

Una fugaz eternidad humedece
el racimo de mis entrepiernas
y condensada busco en la aurora
un apellido para este sueño.

Sutil, desnuda, débil, semi plena,
semi complacida, masturbada contemplo
mis dilatadas pupilas frente al espejo
que silencioso no dice nada.

por Silvia Rodríguez Bravo
fotografia de autor desconhecido

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Mimosa boca errante



Para todas as minhas leitoras, com votos de um Feliz Ano de 2016!!

Um beijo
Pedro M.


Mimosa boca errante
à superfície até achar o ponto
em que te apraz colher o fruto em fogo
que não será comido mas fruído
até se lhe esgotar o sumo cálido
e ele deixar-te, ou o deixares, flácido,
mas rorejando a baba de delícias
que fruto e boca se permitem, dádiva.

Boca mimosa e sábia,
impaciente de sugar e clausurar
inteiro, em ti, o talo rígido
mas varado de gozo ao confinar-se
no limitado espaço que ofereces
a seu volume e jato apaixonados
como podes tornar-te, assim aberta,
recurvo céu infindo e sepultura?

Mimosa boca e santa,
que devagar vais desfolhando a líquida
espuma do prazer em rito mudo,
lenta-lambente-lambilusamente
ligada à forma ereta qual se fossem
a boca o próprio fruto, e o fruto a boca,
oh chega, chega, chega de beber-me,
de matar-me, e, na morte, de viver-me.

Já sei a eternidade: é puro orgasmo.

por Car­los Drum­mond de Andrade
fotografia de autor desconhecido