quinta-feira, 28 de maio de 2009

Duplar


eu e você
deixar a boca
resvalar para
a outra boca
no beijo húmido
intenso, ávido

duplar
eu e você
em par
em perna
em mão
em coração batendo
lírico, lúcido
ímpeto
de estar
de entrar
sair
ficar
entrar
gozar
em par

duplar
em voz
em beijo sôfrego
em língua húmida
nos seios túrgidos
duplos
pêssegos
bicos tépidos

duplar
em olhos cúmplices
em mãos de artífice
na pele ardente
nas mucosas cálidas
límpidas, púrpuras
em pernas escancaradas
envolventes
sobre
as costas pálidas

duplar
eu em você
em secreções, saliva
você em mim
em contracções
espasmos
múltiplos
nós dois
como um barco
à deriva
sem hora ou
lugar
para chegar

duplar
eu em você
você em mim
ávidos
máximos
gozar
em par
de modo ímpar
até ficarmos
fartos
cansados
tontos
de orgasmos
múltiplos
tantos
únicos

duplar
eu em você
dormir
e nem perceber
o corpo
sorrir.

por Nálu Nogueira
fotografia de autor desconhecido

terça-feira, 26 de maio de 2009

Modo de amar ― XIV


As rosas nos joelhos

São grinaldas de rosas
à roda
dos joelhos

O âmbar dos teus dentes
nos sentidos

O templo da boca
no côncavo do espelho
onde o meu corpo espia
os teus gemidos

É o gomo depois...
e em seguida a polpa...

o penetrar do dedo...
O punho do punhal

que na carne enterras
docemente
como quem adormenta
o que é fatal

É a urze debaixo
e o fogo que acalenta
o peixe
que desliza no umbigo

piscina funda
na boca mais sedenta bordada a cuspo
na pele do umbigo

E se desdigo a febre
dos teus olhos
logo me entrego à febre
do teu ventre

que vai vencendo
as rosas ― os escolhos
à roda dos joelhos, docemente.

por Maria Teresa Horta
fotografia de Bernard Edimo

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Eclipse


Vem
menina vadia
te darei o meu dia
te farei sol nascer

Vem
menina moleca
te farei uma festa
te darei meu prazer

Vem
menina dengosa
te encantarei formosa
te enfeitarei com meu ser

Vem em ti
todas as meninas carentes
todas as mulheres santas
todos os amores proibidos
todas amantes desvairadas

Dispa
em definitivo teus pudores
deflore toda tua nudez
que arde... agora afoita
em avalanche de néctar

Abrace-me
sem culpas nem escrúpulos
penetre nessa loucura
que arde... agora erecto
vermelho a te querer

Fique-me
em eclipse... em
superposições de sóis
querendo e ardendo
definitivamente nós!!!

por Djalma Filho
fotografia de Poluyanenko Alexey

segunda-feira, 18 de maio de 2009

As time goes by


Meu bem,
Me chama de Humphrey Bogart
Que eu te conto Casablanca.
Me tira esse sobretudo;
Sobretudo, conta tudo
Que eu te dou uma rosa branca.
Meu bem,
Me chama de Humphrey Bogart...
Te dou carona em meu carro
Chevrolet que sou bacana;
Te levo, meu bem, pra cama
Fumamos nossa bagana;
Te provo que sou sacana...
Te faço toda a denguice:
Te dispo que nem a Ingrid,
Te dou filhos de montão
Só pra te ver sufocar...
Mas me chama de Humphrey Bogart!
Faço chover colorido
Como num bom musical.
Te chamo de Lauren Bacall!
Te danço, te canto, te mostro,
Entre as pernas, meu bom astral...
Te deixo pro enxoval
Meu chapéu preto de gangster,
Mil poemas de ninar...
Só pra te ouvir sussurrar:
Como te amo, meu Humphrey Bogart!

por Tanussi Cardoso
fotografia de autor desconhecido

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Contracções


Abre e fecha
flechas de desejos
flashs instantâneos
quando penso em ti...
Pulsa o pulso
pulsa a flor que arde
curtas contracções
longos arrepios...
Abre e fecha
sangue bombeando
vida latejando
rega esse navio...
Pulsam bicos
seios bolinados
duros, retesados
querendo implodir...
Flor-de-cheiro
doce à la pom-pom
molha tua boca
sente quanto é bom...
Abre e fecha
pulsa e repuxa
flor-da-contracção
arde de tesão
abre minhas coxas
rompe tuas forças
seca minhas poças
e deglutes
todas as flores roxas
que um dia
desabrochaste...

por Isabel Machado
fotografia de autor desconhecido

terça-feira, 12 de maio de 2009

Homenagem


Ah, o pecado!
Viva o pecado
Que esconde em si
A mais casta virtude.
Pequemos todos, então,
Pois a alternativa
É sermos todos pequenos e vãos.

Deixemos correr
Mãos sobre nádegas
E olhares incestuosos
Sobre nossas próprias amantes.
Degolemos padres e pastores
(que também pecam, só que pecam
escondidos)
Pelo horror de terem inventado
As velhas beatas que nunca souberam
pecar.

E pequemos sem culpa
Porque culpa e pecado
Não sabem dançar um maxixe,
Só valsas vienenses.
Quando muito!
O pecado é belo,
Fulgurante e molhado;
Feito para ser deliciado
Como outra língua em nossa boca.

Fiquemos apenas com a angústia
Do pecado mal feito
Ou do jamais cumprido.
Pequemos o aqui e no agora
O pecado doce
Da quase-castidade abandonada.

Sem o pecado
Não acredito na sinceridade de Deus.

por Paulo Mont'Alverne
fotografia de Daniel Oliveira

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Gozo


Viro, reviro,
Revido.
Torço
Abraço
Atiro
Me afasto.
Grito
Afago
Aninho.
Me deito
Te agarro
Nos mordemos
Nos amamos.
Num impulso
te expulso.
Me seguras,
Penetras,
Me apertas
Te enlouqueço
Gozamos.
Eita, doidera boa!

por Léa Waider
fotografia de autor desconhecido

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sims


Eu quero sims...
sims na tua boca
na tua pele
no meu cabelo esparramado
em travesseiros
sims em sucessão
estroboscópica
no meu olhar caramelo
nos meus pêlos
nas gargalhadas que darei
― e darei, acredite-me.

sims brotando roucos
na garganta
escapulindo pelos
lábios, a língua
provocante procurando
sims na tua boca
no gosto da tua boca
no perfume que a tua pele
exala, no teu olhar que
inebria.

sims que quero ver
na chama que arde
trêmula, nas sombras,
sentir os sims nas mãos
que passeiam lânguidas
ávidas, a minha pele
de seda, a tua masculinidade
o teu suor, o meu suor
de quem é? de quem são?
os sims que ouço, de quem?
sinais, paixões
essas estrelas, de quem?
esse luar no cristal
esses cabelos abundantes
que cobrem teu rosto
percorrem teu corpo.

sims para cada parte
que minha boca vasculha
meus olhos nos teus
olhos sims!
nas bocas se confundindo
na língua que brinca
comigo
sims nas pernas
entrelaçadas
nas mãos e nas unhas
riscando as costas, sims!
o corpo em arco, olhos
fechados em sims,
gemidos,
sims de portas escancaradas.

por Nálu Nogueira
fotografia de H. Morgen